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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os novos rumos da Confecom

As tentativas de se tornarem verdadeiramente aplicáveis, se não todas, ao menos, muitas das propostas aprovadas pela Confecom, parece crescer a cada dia. De um lado vemos uma forte mobilização por parte dos participantes que integraram os movimentos sociais presentes ao evento, os quais socializam diariamente inúmeros conteúdos, mensagens através das rede mundial de computadores, fomentando a discussão pós-confecom, algo essencial para que a iniciativa não morra ainda no parto.

De outro, o presidente Lula continua dando demonstrações claras de suas reais intenções para com a validação da Confecom, como vemos, por exemplo, em matéria publicada recentemente pela Agencia Brasil, a qual republicamos logo abaixo. Tratam-se de ações importantes para continuarmos sonhando com o ideal da revolução da comunicação social no nosso país, via democratização real da mídia. Mas é preciso que não nos esqueçamos de que, como diz um dos mais belos versos, de autoria do inesquecível Raul Seixas: “Sonho que se sonha só e só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Que seja esse o nosso prelúdio para a nova era. A era da comunicação digital que está apenas se iniciando e descobrindo novos horizontes.

Lula enviará propostas de Conferência de Comunicação ao Congresso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou hoje, em seu programa semanal Café com o Presidente, que algumas das propostas da 1° Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que terminou na última quinta-feira (17), vão ser transformadas pelo governo em projetos de lei, que serão encaminhados ao Congresso.
Lula não informou quais propostas serão aproveitadas pelo governo. Depois de três dias de debates, a conferência terminou com a aprovação de mais de 600 propostas que tratam da produção de conteúdo, meios de distribuição e direitos e deveres para o setor
“Vamos trabalhar no Congresso Nacional para que a gente tenha o marco regulatório condizente com as necessidades da evolução das telecomunicações no Brasil e no mundo, e com as necessidades de democratizar, cada vez mais, os meios de comunicação no Brasil”, disse Lula. Na avaliação do presidente, é preciso atualizar a legislação brasileira de radiodifusão, regulamentada pela última vez em 1962.
Algumas das propostas aprovada durante a conferência já tramitam como projetos de lei no Congresso como a proibição da publicidade direcionada às crianças (PL 5921/01); a regulamentação da publicidade de bebidas alcoólicas; o fim dos pacotes fechados na TV por assinatura para permitir que o assinante possa fazer o seu próprio pacote (29/07) e o restabelecimento da exigência do diploma para os jornalistas (PEC 386/09).

Da Redação/PCS Com informações da Agência Brasil
fonte: http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/COMUNICACAO/144293-LULA-ENVIARA-PROPOSTAS-DE-CONFERENCIA-DE-COMUNICACAO-AO-CONGRESSO.html

sábado, 19 de dezembro de 2009

Um balanço preliminar da 1ª Confecom

Foi encerrada em clima de comemoração pelos participantes, sobretudo, pelos integrantes dos movimentos sociais, no último dia 17, a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). As expectativas, a partir de agora, giram em torno de dois outros momentos significativos atrelados ao evento: a divulgação do relato final e formal com todas as propostas votadas e aprovadas e algo ainda mais aguardado ansiosamente pela sociedade brasileira que é a consolidação dessas propostas de políticas de comunicação junto aos Poderes constituídos.

Sabemos se tratar de algo ainda mais difícil certamente do que foi a realização do próprio evento que até o dia da abertura oficial enfrentou todo o tipo de intempérie e golpes daqueles que enxergam nele, uma ameaça ao modelo de política de comunicação monopolista e elitista em vigor no país. É bom lembrar que fazem parte desse poderoso grupo político capitalista muitos dos deputados e senadores ‘donos’ de concessões de dezenas emissoras de rádio e TV espalhadas pelo Brasil a fora e que as utilizam ao seu bel prazer.

Como já é sabido, tratar-se-á de uma luta nada fácil e que certamente demandará um longo tempo e esforço por parte da sociedade civil organizada para conseguirmos mudanças significativas. Contudo, um dos consensos a que os participantes e simpatizantes da Confecom chegaram é que a consolidação do evento por si só já sinaliza o início de uma promessa de transformação dentro do campo da comunicação social no nosso país. E, claro que não podemos nos esquecer que a implantação de uma nova política de comunicação social no país dependerá e muito da mobilização da sociedade em torno desta bandeira de luta que é a democratização da mídia, da qual a Confecom surge como um dos principais grupos de força em meio aos diversos movimentos sociais empenhados nessa meta.

Mas enquanto isso não começa a acontecer e enquanto aguardamos a divulgação do relato final da 1ª Confecom, saboreemo-nos com algumas das propostas aprovadas nas plenárias em torno das quais giram as nossas esperanças de um país melhor, mais justo e igualitário para todos, ideal este que passa necessariamente, como vemos defendendo aqui neste espaço, por uma reformulação da incontestável sociedade midiática da qual fazemos parte:

1. A regulamentação do artigo 220 da Constituição, que proíbe o monopólio e o oligopólio no setor de comunicação;
2. A criação do Conselho Nacional de Comunicação de caráter deliberativo e vinculado ao poder executivo federal;
3. A regulamentação do Artigo 221, que trata das finalidades educativas e culturais da programação, da regionalização e da presença da produção independente no rádio e na TV;
4. Implantação de mecanismo de fiscalização dos meios de comunicação com controle social e participação popular em todos os processos;
5. A defesa do acesso da internet como direito fundamental;
6. O aperfeiçoamento dos mecanismos de cálculo de tarifas de telecomunicações;
7. A garantia de banda larga com velocidade e qualidade para todos;
8. A implementação de um sistema público de informação sobre saúde e meio ambiente para o trabalhador;
9. A distribuição com formatos livres da produção de bens culturais financiados com recursos 10. públicos;
11. Implantação de ações punitivas para veículos de rádio e TV que veiculem conteúdos que desvalorizem, depreciem ou estigmatizem crianças e minorias historicamente discriminadas;
12. Criação de política de fiscalização que não criminalize as rádios comunitárias.

Esse é apenas um resumo do saboroso cardápio que alimenta o nosso apetite democrático em torno das medidas discutidas, votadas e aprovadas nas plenárias da Confecom. O mesmo pode ser visto na íntegra através do artigo de autoria de Alexandre Kacelnik, Eusébio Galvão, Mair Pena Neto, Renato Lameiro e Roberto Falcão, o qual traz um balanço das propostas aprovadas no evento. O texto está postado na íntegra do site do http://www.observatoriodaimprensa.com.br/ intitulado: As propostas aprovadas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Confecom prossegue com otimismo

A 1ª Confecom prossegue hoje o dia inteiro com as últimas discussões em torno das propostas de democratização da comunicação no Brasil em meio a muita polêmica e quebra de braço entre os diversos segmentos socais representativos que se fazem presentes ao evento, sobretudo, entre a categoria dos movimentos sociais, da qual fazem parte várias entidades, e de outro lado, a classe empresarial, representada pela ABRA. Em meio às decepções, muitas das quais já esperadas, como a baixa participação da sociedade civil organizada em muitos dos Gt´s e estratégias de desmobilização de muitas das entidades representantes, o evento prossegue de certa maneira com otimismo para os mais defensores da iniciativa em prol da revolução da comunicação social no país.

Entre alguns dos resultados já comemorados pelos movimentos sociais está a suspensão de veiculação de publicidade voltada para o público infantil; a aprovação da proposta voltada para a garantia de uma maior participação de grupos minoritários nos meios de comunicação, a exemplo da comunidade negra. A categoria jornalista também já sai ganhando no encontro com a aprovação de várias propostas como a criação do Conselho Nacional de Comunicação, a obrigatoriedadede do diploma, e a nova legislação que prevê garantias do dereito do cidadão, algo que certamente será combatido ferozmente pós-confecom pelos magnatas da indústria midiática.

Um outro aspecto que vem sendo visto de forma positiva pelos integrantes dos movimentos sociais tem sido a baixa incidência apresentada pela categoria empresarial em decorrência da pouca representatividade presente ao evento. Isto, segundo se acredita, vem ajudando na aprovação das propostas apresentadas pelas diversas entidades sociais.

De acordo com a comissão organizadora da Confecom, as seis mil propostas estaduais e as 1.500 nacionais representam uma demanda reprimida pelo debate mais profundo de questões de interesse público relacionadas à comunicação. Por essa razão, para muitos estudiosos e defensores da Confecom, só a abertura para este tipo de discussão, jamais acontecida no Brasil, já é algo para se comemorar. Que seja, pois como se prevê, mesmo ausentes em massa, os empresários dos grandes grupos de comunicação certamente estão se preparando para uma atuação estratégica junto aos poderes legislativos e Executivo no sentido de derrubrar a aprovação de muitas das propostas regulatórias já votadas e aprovadas no evento.

Algo que irá contra o discurso feito pelo Presidente Lula na abertura da Confecom, para quem “é hora de repensar a atuação da indústria de comunicação”. Na ocasião, Lula lembrou que essa mesma indústria sempre trabalhou com um modelo vertica contrariando o compromisso com a liberdade de imprensa e mais ainda, da livre expressão em geral.

Voltaremos a este tema comentando os resultados finais mais significativos que culminarão a 1ª Confecom. Até lá, acompanhar o desenrolar dos debates através do site oficial do encontro: www.confecom.gov.br/conferencia

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os primeiros indícios da Confecom

Acontece em Brasília a tão aguardada 1ª Conferencia Nacional de Comunicação (CONFECOM). Previsto para se estender até o próximo dia 17, o evento, como já era esperado, foi aberto num clima tenso com direito a vaias, protestos e alguns poucos aplausos dirigidos ao presidente Lula. Tudo natural, em se tratando de um acontecimento que reúne segmentos diversos da sociedade civil organizada e, sobretudo, por se tratar de um campo de correlação de forças entre a esfera pública, melhor representada por diversos movimentos sociais, e a esfera privada, representada por parte do empresariado dos meios de comunicação que aceitou em participar do acontecimento rejeitado pela maioria da categoria.

Entre os auto-excluídos da discussão sobre a democratização da comunicaçaõ no Brasil está a Rede Globo que, além de se retirar da proposta de discussão levantada pela Confecom, usou o JN para retaliar a iniciativa, utilizando para isto do mesmo discurso sem sentido levantado contra a exigência do diploma em Jornalismo. Prendendo-se num dos tópicos de discussão proposto pela conferência que é o controle social da mídia, o grupo de monopólio global se achou ameaçada no seu sagrado direito de liberdade de expressão taxando a proposta como uma censura aos órgãos de imprensa. Mas como diz um dos bordões repetido inúmeras vezes na abertura do próprio evento, nesta segunda-feira: “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”.

Aliás, a TV Globo foi duramente bombardeada pelo representante da única grande TV aberta que se fez presente ao evento, o diretor presidente da emissora, Johnny Saad ao ressaltar, de forma subliminar, o monopólio da empresa dos Marinhos no meio da Tv por assinatura e no mercado midiático em geral.

Em síntese, se o saldo do evento não for positivo para os movimentos sociais e a sociedade civil como um todo, ao menos também não será tão boa para os representantes empresariais do ramo da mídia no país, cuja máscara de democratas está cada vez mais deixando-se cair por meio da postura da categoria na Confecom. Voltaremos a comentar o desdobramento deste evento que certamente, se não for revolucionário como se espera que seja ao ponto de apontar para novos rumos da comunicação no país, ao menos revelador se fará. Aguardemos e acompanhemos o desenrolar dos próximos dias.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O fenômeno do assistencialismo barato na TV brasileira

Confirmando um dos bordões mais conhecidos difundidos por um dos homens que melhor conhecida de televisão no Brasil, o velho Chacrinha, as TV`s abertas brasileiras vivem hoje uma crise de criatividade jamais vista na história do país, evidenciando que realmente na telinha, nada se cria, tudo se copia. O pior: escancaradamente. Esta realidade se constata através de dois dos maiores fenômenos de audiência da atualidade das emissoras de TV que são os reality shows e os programas de assistencialismo.

Deixando de lado este primeiro fenômeno midiático, já demasiadamente analisado na internet, e partindo para uma análise crítica deste segundo, chegamos a conclusão de que realmente, se trata de um verdadeiro nicho comercial explorado exaustivamente pelas direções de programação das emissoras de TV, para quem os parâmetros para definição de formatação (jamais criaçao) de programas televisivos ao que parece são dois: acertar no gosto popular e no bolso dos patrocinadores, valendo-se 'fidedigamente' para tal, do que anda fazendo a concorrência.

E pelo jeito, os programas de cunho assistencialista com forte apelo sensacionalista se constituem numa receita perfeita para tal. Que o diga a rápida proliferação (ou seria infestação?) de programas dessa natureza nas principais redes de TV do país. Usando como pano de fundo e deixa principal, a história de vida de pessoas humildes e desprovidas de um senso crítico mais aguçado, os diretores de TV´s seguem o roteiro que os políticos brasileiros repetem há século, extraindo da camada mais pobre da população, a sua inesgotável fonte de enriquecimento e prestígio social.

Apesar de não se considerar um fenômeno novo, uma vez que programas dessa natureza já se via nas TV`s brasileira a partir dos anos 1960, época em que o Programas Boa noite, Cinderela, exibido pela TV GLOBO, já se fazia um grande sucesso de ibope, a receita deste tipo de entretenimento vem recebendo ingredientes novos e se expandindo a todo vapor pelas concorrentes. A diferença para os programas de hoje, talvez esteja unicamente nos tipos de premiações oferecidos aos personagens que, até neste aspecto segue um padrão comum, ou seja, a reforma de imóveis e até veículos. Hoje, como se percebe, até mesmo em conseqüência do crescimento do poder de consumo das classes C e D, não se oferece mais uma cadeira de rodas, uma passagem de ônibus, um carro 0k, como aliás, rege o tão seguido manual de programas de TV´s americanas que ainda é a principal fonte de plágio das nossas TV´s.

A meta hoje é revestindo-se de bons samaritanos e de um certo ar de filantropia, realizar os sonhos dos brasileiros sofridos, dentre os quais fazem parte a tão almejada aquisição de uma boa e confortável casa própria, de preferência com um carro na garagem. É assim que funciona, por exemplo, o Caldeirão do Hulk, (Globo); Construindo Um Sonho (SBT) e Sonhar Mais Um Sonho (RECORD), para ficar apenas nestes. Com se percebe, a “semelhança” está até nos nomes dos programas. Santa criatividade!!!

Abordados acerca do estilo de programa e, sobretudo, acerca dos critérios meritocracistas e sensacionalistas com que escolhem os personagens para estes tipos de programas, os diretores e apresentadores são unânimes em afirmar que agem de boa fé e pautados exclusivamente na escolha de boas histórias de vida a fim de serem narradas na TV. Aliás, nem o rótulo de assistencialismo aceitam, como é o caso de Luciano Hulk – um dos maiores magnatas da mídia da atualidade -, para quem, em entrevista concedida recentemente acerca desta questão, afirmou que o seu programa segue um estilo sério e humanitário, só!. É preciso dizer algo mais?.

Para finalizar, um dado recém divulgado na internet e que consideramos relevantes acrescentarmos neste comentário: das cerca de 300 mil cartas recebidas pela direção do programa Caldeirão do Hulk, de pessoas interessas em verem sua casa e carro reformados e contas pagas, apenas 40 foram atendidas desde a criação do quadro. Realmente é um caldeirão e tanto este do Hulk.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A guerra do Google com a indústria jornalística

A briga entre a Associação Mundial de Jornais (WAN) com o Google em torno do acesso gratuito ao conteúdo dos jornais na internet configura-se como um dos principais dilemas e desafios que está longe de ser resolvido na chamada era cibernética. Por outro lado, também aponta de maneira inequívoca para as transformações que a internet vem provocando nos meios tradicionais midiáticos, cujo segmento mais atingido tem sido o de jornais impressos.

O dilema entre as duas entidades empresariais ressalta a discussão complexa que gira em torno das mudanças estruturais e logísticas de funcionamento que os jornais estão sendo obrigados a enfrentarem num mercado regido por novas leis e novos tipos de consumidores.

O problema maior é que os donos dos grandes grupos empresariais jornalísticos ainda não se conformaram com esta realidade, a qual os coloca – pela primeira vez na história da imprensa mundial – em posição um tanto desconfortável. Para esses, em síntese, não resta outra alternativa a não ser correr atrás do prejuízo e se adaptar ao admirável mundo novo tecnológico. E, é bom ressaltar que, neste sentido, a culpa não é da gigantesca Google, que numa análise macro, equivale a uma pequena fração do que a Internet ainda irá proporcionar pela frente.
Entre as saídas para este dilema vivida pela categoria empresarial está a distribuição gratuita de jornais, algo impensável ainda para muitos mas que tem aumentado o número de adeptos espalhados pelo mundo afora.

Outra estratégia simples é aproveitar de maneira positiva a popularidade que ferramentas agregadoras como a Google oferecem ao massificar o endereço eletrônico do jornal. Afinal de contas, achar que é possível manter em sigilo ou sobre controle qualquer que seja o conteúdo postado na internet, é ingenuidade.

Por isso mesmo a discussão em torno dos direitos autorais no uso de notícias pelos chamados "agregadores" na internet, em que o Google News é líder, é algo que consideramos extremamente inútil e que sempre irá contrariar os grupos que sempre puderam manipular e manter a informação sob controle. Coisa do passado.

Como defendeu recentemente o presidente-executivo do Google, Eric Schmidt, a empresa não é culpada pelos problemas da indústria jornalística na transição para a era online. Em matéria publicada recentemente no Wall Street Journal e republicada no site do comunique-se, o empresário cibernético disse ainda que muitos dos ataques dos proprietários direcionados ao Google, advém da revolta dos executivos do ramo que estavam acostumados em conseguir todos os benefícios das relações de negócios sem dar muito em troca.

De acordo com Schimdt, as editoras precisam explorar uma nova forma de fazer dinheiro com notícias na Internet, ao invés de estarem culpando a Google, a internet pela queda no faturamento. Até mesmo porque trata-se de um fenômeno que, diga-se de passagem, já era previsível com a expansão da internet.

O fato é que nesse dilema que mais parece a antológica e decantada briga do diabo com o dono do céu, certo mesmo só está aquele que melhor sabe tirar vantagens do fabuloso e ainda indecifrável mundo novo em que os caminhos que levam ao céu se multiplicam a cada instante. A cada click do mouse.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A PEC dos Jornalistas e o PECado dos donos da mídia

Depois de muita expectativa e maus presságios, a Proposta de Emenda Constitucional 33/09 a favor da restituição da obrigatoriedade do Diploma em Jornalismo, a PEC dos Jornalistas - como ficou mais conhecida- , foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta quarta-feira (02/12). Conforme foi publicado no site da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), a apreciação da matéria na CCJ começou às 11h, com pronunciamento de vários senadores. Posta em votação às 14h15, a PEC 33/09 foi aprovada por 20 votos contra dois. Posicionaram-se contra apenas os senadores Demóstenes Torres (DEM/GO) e ACM Júnior (DEM/BA). A matéria agora segue para apreciação em plenário.

Os dois únicos votos contrários à PEC, é mais um inequívoco exemplo dos interesses contrariados do grupo composto pelos chamados ‘donos da mídia’ para quem, de fato, a formação qualificada em Jornalismo representa uma ameaça aos seus ideais. Prova maior disso é o ACM Neto, herdeiro do maior grupo de comunicação do Estado da Bahia, por meio do qual, a família vem se perpetuando no poder, através do uso do poder de penetração dos diversos veículos de comunicação em praticamente todo o Estado. Nesse contexto é bom lembrar que a riqueza, poder e prestígio dado ao grupo através do uso da mídia na Bahia só perde para o cacau nos tempos áureos em que este se configurava como principal fonte promissora.

Apesar de o presidente da FENAJ, Sérgio Murilo, explicar que esta última votação (lembrando que a PEC já foi votada e aprovada pela Câmara dos Deputados) ainda não representa a restituição efetiva da medida constitucional, uma vez que a matéria precisa cumprir com os trâmites legais até a sua publicação, já se pode dizer que se trata de uma vitória. E vale ressaltar também que para chegar até aqui, os proprietários dos grandes grupos oligárquicos da comunicação no país jogaram pesado contra a PEC dos Jornalistas, chegando, inclusive, conforme descreve Sérgio Murilo, a fazerem um corpo-a-corpo junto aos parlamentares, no dia da votação no Senado, distribuindo panfletos a esses. Campanha esta encabeçada pelo presidente da entidade de representação do grupo empresarial, mas que ao que tudo indica, ressuou como um PECado.

Ainda conforme está publicado no site da FENAJ, “O presidente do Senado, José Sarney, prometeu a dirigentes sindicais dos jornalistas que se empenhará na agilização da tramitação da matéria”. O que não é algo 100% de confiança, uma vez deste tratar-se de um dos representantes do grupo oligárquico midiátivo mas que na condição de parlamentar, é obrigado a ponderar suas atitudes e, sobretudo, ações de cunho coronelistas como é de praxe ser visto no Maranhão.

Os representantes da FENAJ reunem-se com a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma para definição dos próximos encaminhamentos. Enquanto isso, aguardemos o s próximos capítulos dessa novela da qual os telespectadores são os milhões de brasileiros e não apenas os jornalistas, já que a media afetará direta e indiretamente a vida de toda a sociedade brasileira. A restituição do caráter obrigatório da formação superior em Jornalismo para o exercício da profissão, num país como o nosso, é algo que dispensa maiores comentários, como já foi dito.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A mídia na proposta de uma vida melhor

Vista em geral como uma das mais fascinantes invenções da modernidade que influencia negativamente a vida em sociedade, contribuindo quase sempre para a difusão de valores de caráter mercantilista e efêmero, a mídia também apresenta um lado positivo que precisamos enxergar para tirar melhor proveito dele. Se explorarmos a fundo o campo midiático descobriremos exemplos de iniciativas que fogem a esta que parece ser a lógica predominante dos meios de comunicação de massa.


Um deles trata-se do trabalho desenvolvido e propagado pela Fundação para uma Vida Melhor, uma instituição sem fins lucrativos e que se apóia na crença de que todos os indivíduos têm direito à dignidade e ao amor-próprio, e de que a maioria deles estão dispostos a assumir responsabilidade pelas suas ações e o seu bem-estar, quando as oportunidades lhes são oferecidas.


Para isso, a ONG trabalha produzindo peças publicitárias e propagandas veiculadas nos meios de comunicação de vários paises baseadas em valores morais e humanitários. Você com certeza já viu alguma propaganda da Fundação Para Uma Vida Melhor na televisão ou nos cinemas. Uma das mais conhecidas retrata a relação construtiva e de bom exemplo envolvendo um pai e um filho. Na propaganda, o filho aparece sempre segurando uma lanterna enquanto o pai conserta alguma coisa. Para quem não lembra, o vídeo pode ser visto no site da ONG:(http://www.umavidamelhor.org.br/ ).


De acordo com dados fornecidos pelo site da instituição, trata-se de uma tarefa nada fácil, uma vez que trabalhar valores dessa natureza parece algo paradoxo no mundo atual, mas sua campanha já foi premiada mundo afora e é vista, em média, 2 milhões de vezes por dia em sete redes e mais de 900 canais de televisão. Os programas e projetos constituem-se exclusivamente em esforços beneficentes. Dentre os valores morais trabalhados pela fundação estão a honestidade, acreditar nos outros, gentileza e a determinação.
Vale a pena conferir e assistir aos vídeos produzidos por esta iniciativa beneficente que, vale ressaltar, não está atrelada a nenhuma instituição religiosa ou política, numa clara demonstração de que os valores éticos e de interesse público não são exclusividade dessas instâncias sociais.



Trata-se de mais uma demonstração de que, como afirmam diversos estudiosos, as novas tecnologias em si são neutras, e que o aspecto positivo e negativo advém do uso que o homem faz delas. Portanto, na condição de receptores midiáticos, temos mesmo é que prestigiar iniciativas como essas, reforçando em nós o papel da mídia na transformação desse mundo para uma vida melhor e mais digna.

A mídia na proposta de uma vida melhor

Vista em geral como uma das mais fascinantes invenções da modernidade que influencia negativamente a vida em sociedade, contribuindo para a difusão de valores de caráter mercantilista e efêmeros, a mídia também apresenta um lado positivo que precisamos enxergar para tirar melhor proveito. Se explorarmos a fundo o campo midiático descobriremos exemplos de iniciativas que fogem a esta que parece ser a lógica predominante dos meios de comunicação de massa.

Um deles trata-se do trabalho desenvolvido e propagado pela Fundação para uma Vida Melhor, uma instituição sem fins lucrativos e que se apóia na crença de que todos os indivíduos têm direito à dignidade e ao amor-próprio, e de que a maioria deles estão dispostos a assumir responsabilidade pelas suas ações e o seu bem-estar, quando as oportunidades lhes são oferecidas.

Para isso, a ONG trabalha produzindo peças publicitárias e propagandas veiculadas na mídia de vários paises baseada em valores morais e humanitários. Você com certeza já viu alguma propaganda da Fundação Para Uma Vida Melhor na televisão ou nos cinemas. Uma das mais conhecidas retrata a relação de bom exemplo que um pai passa para o filho, o qual sempre o acompanha segurando uma lanterna enquanto este conserta alguma coisa.

De acordo com dados fornecidos pelo site da instituição (http://www.umavidamelhor.org.br ), trata-se de uma tarefa nada fácil, mas sua campanha já foi premiada mundo afora e é vista, em média, 2 milhões de vezes por dia em sete redes e mais de 900 canais de televisão. Os programas e projetos constituem-se exclusivamente em esforços beneficentes. Dentre os valores morais trabalhados pela fundação estão a honestidade, acreditar nos outros, gentileza e a determinação.
Vale a pena conferir e assistir aos vídeos produzidos por esta iniciativa beneficente que, vale ressaltar, não está atrelada a nenhuma instituição religiosa ou política, numa clara demonstração de que os valores éticos e de interesse público não são exclusividade dessas instâncias sociais.

Trata-se de mais uma demonstração de que, como afirmam diversos estudiosos, as novas tecnologias em si são neutras, e que o aspecto positivo e negativo advém do uso que o homem faz delas. Portanto, na condição de receptores midiáticos, temos mesmo é que prestigiar iniciativas como essas, reforçando em nós o papel da mídia na transformação desse mundo para uma vida melhor e mais digna.

domingo, 22 de novembro de 2009

Paulo Coelho e a 'magia' do blog

Considerada uma das invenções mais bem sucedidas da internet, utilizada por milhões de pessoas em todo o mundo, a blogosfera continua se revelando uma ferramenta estratégica fabulosa detro do promissor universo da comunicação midiática. Algo que, apesar da ampla popularização, ainda se revela mal explorado pela maioria, dado a diversidades de fins para os quais esse aponta. Dentre esses está o efeito de cunho analítico mercadológico e persuasivo disfarçado, cujo objetivo de uso implícito é o de fomentar a venda de objetos ou propagação de idéias.

Um dos últimos casos que apontam para situações desse tipo é a estratégia midiática desenvolvida pelo célebre escritor brasileiro Paulo Coelho que recentemente, num súbito ataque de 'espírito democrático', resolveu publicar críticas feitas ao seu trabalho no seu próprio blog. Utilizando-se de um discurso pouco convincente, pelo menos para muitos, o mago - cuja história de vida vem sendo debulhada por leitores de todo o mundo através da sua biografia lançada por Fernando Moraes - argumentou que se tratava de uma medida contrária à parcialidade apresentada por seu blog. Uma argumentação, no mímino, esdrúxula, uma vez que como todos sabemos contraria a própria natureza desse tipo de instrumento midiático criado com fins explicitamente pessoais. Um instrumento de comunicação subjetivo por excelência e, portanto, parcial.

O que o ambicioso escritor se esquivou de explicar, por motivos óbvios, é que tudo não passa de uma estratégia com a finalidade de estudar melhor o nicho de mercado em que explora e, diga-se de passagem, muito bem, há anos. Uma estratégia de conquista com o objetivo de trazer para dentro do seu blog e, assim, conhecer melhor os leitores mais críticos e os não admiradores de seu estilo narrativo esotérico. A razão mais óbvia para tal conclusão está na queda de vendagem de sua última obra, Zahir, que comparada com as demais lançadas anteriormente, apresenta um índice de aceitação fruto, ao que tudo indica, da avassaladora concorrência de novos escritores que vêm explorando esse nicho de mercado, lançando no mercado editorial um número cada vez maior de títulos de livros esotéricos, de auto-ajuda, ou coisa parecida. Que o digam os autores de livros como “Crepúsculo”; “Lua Nova”, “ A Cabana” e tantos outros que despontam entre os mais vendidos no mundo.

É, pelo jeito, como manda o bom manual de sobrevivência de marketing de venda dos tempos moderno, o mago já se conscientizou de que navegar é muito mais preciso e, mais do que isso, que em tempos de internet, para conquistar a massa de leitores é preciso ir além dos velhos truques de magia negra, bruxaria etc e tal. Que mais simples que antes, ao invés de ler as mentes das pessoas e lançar sobre elas um apelo místico, basta ler o que elas pensam a respeito de seu trabalho. E só!.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Confecom e o destino da mídia no Brasil

Pessoas de diversos segmentos da sociedade civil organizada se reunem em todo o Brasil através das reuniões preparatórias para a Conferencia Nacional de Comunicação, a Confecom, que se realizará em Brasília no período de 14 a 17 de dezembro. As conferências estaduais estão chegando ao fim neste mês com as propostas de políticas de comunicação que deverão ser apresentadas no encontro final no Distrito Federal.

Doze conferências estaduais serão realizadas até a próxima semana. Na Paraíba, a reunião acontecerá neste final de semana, nos dias 20 e 21, no auditório da FIEP e reunirá representantes de diversas entidades, órgãos e instituições da esfera pública e privada, os quais discutirão as propostas levantadas pelas conferencias realizadas em nível local em alguns municípios paraibanos. A estimativa é de que pelo menos 200 pessoas participem do evento, para discutir as diversas propostas de políticas de comunicação de cunho democrático, já que o número de participantes das plenárias locais foi em geral, muito baixo.

Recentemente, houve uma audiência pública proposta e presidida pelo deputado estadual Rodrigo Soares. O evento reuniu representantes do Governo do Estado, Arimatéia de França; e de entidades civis, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (Maria da Penha Araújo); do Intecab (Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afrobrasileira), Maria Marques Maciel; e da Associação Paraibana de Imprensa (API), através de sua presidente, a jornalista Marcela Sitônio. A Empresa Brasileira de Telecomunicação (Imbratel) também enviou representante: a executiva Eliane Barbosa de Silva, segundo dados extrapido do endereço eletrônico: http://proconferenciacomunicapb.wordpress.com/.

De acordo com o site oficial da Confecom (http://www.confecom.com.br/), o objetivo da Conferência é Formular propostas orientadoras de uma Política Nacional de Comunicação a partir de um debate amplo, democrático e plural com a sociedade brasileira, garantindo a participação social em todas as suas etapas. Uma relevante e histórica oportunidade de se discutir o futuro da política midiática no país. Daí, porque a necessidade da participação de toda a sociedade, seja de forma direta, ou indireta, acompanhando o desenrolar desta que promete ser um dos acontecimentos mais importantes realizados no Governo de Lula e como diz o seu mais conhecido jargão: “ da história do país”.

para isso, é importante ressaltar que esse acompanhamento jamais se dará através da mídia tradicional cujos interesses defendidos são totalmente antagônicos aos que sustentam a Confecom, razão pela qual - conforme já o dissemos em outras oportunidades neste espaço -, os proprietários dos grandes grupos de comunicação de todo o país, estão se afugentando de participar da discussão.

Quem sabe, se trata apenas de mais uma utopia daquelas que precisamos nos agarrar para assim, assim acreditamos numa mudança melhor dessa nação em que vivemos. Contudo, só teremos a certeza dos efeitos reais dessa promoessa, se de fato, fizemos a nossa parte, enquant

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O caso Geyse: vestido curto e mídia longa

O episódio envolvendo a estudante Geyse Arruda, hostilizada pelos colegas universitários da Uniban, no último dia 22 de outubro, por adentrar na instituição comum vestido curto, vem deixando uma série de lições aos olhos dos mais atentos às mudanças impressas no cotidiano através dos holofotes midiáticos.

A primeira e mais óbvia de todas é a gerência da cultura midiática sobre o cotidiano, selecionando os fatos e temas que se sugerem ser de maior relevância para o conhecimento de todos os cidadãos. Nesse sentido, fica cada vez mais patente a banalização que hoje impera na indústria da informação, fato notório por meio do amplo espaço que continua sendo dado ao caso mencionado.

Diferentemente do que acontece com fatos de interesse público e de grande impacto nos rumos da sociedade, como alguns problemas sociais já evidenciados neste espaço, os noticiários optam pelo desdobramento de fatos pitorescos, exóticos e de cunho particular.

Por outro lado, o caso Geyse vem se revelando uma janela por meio da qual é possível aferir o grau de significância do poder da esfera midiática na sociedade moderna que, como já foi dito aqui por várias vezes, vem moldando num ritmo cada vez mais acelerado e intenso, o cotidiano.

Não é a toa que a relação entre cotidiano e mídia, vem se tornando um dos principais objetos de estudo nos mais variados campos de estudo das ciências humanas. Os estudos trazem a tona, várias das teorias desenvolvidas nos últimos dois séculos quando a indústria da comunicação, ou indústria cultural como muito bem denominou a Escola de Frankfurt, passou a ser vista como algo muito além de uma mera fábrica de entretenimento.

Entre essas, está a Teoria das Representações Sociais desenvolvida por Moscovici em 1961, a qual se respalda nas contribuições do eminente sociólogo Émile Durkheim. Nesse sentido, é indiscutível a necessidade de reestudarmos muitas das noções apresentadas por este autor para quem representações sociais equivalem a fenômenos específicos que estão relacionados com um modo particular de compreender e de se comunicar. Assim, não é preciso irmos muito longe para identificarmos quem ou o que ocupa esse papel de produção de sentido nas relações sociais vigentes. Mais importante ainda: refletirmos acerca do estratégico processo de banalização do cotidiano. Ou seja, nos dizeres sociológicos: o processo de simplificação do cotidiano socializado pelas mídias.

Enfim, todos os fenômenos de audiência gerados pela mídia espetacular, a exemplo do último deles que é caso Geyse, parem estar ressuscitando muitos dos teóricos do passado que, apesar de sofrerem diversos tipos de críticas – algumas delas com razão – estavam corretos em muitas de suas previsões, firmando-se como verdadeiros profetas. Que o digam Marshal McLuhan, Martín-Barbero, Michel Certeau e o próprio Karl Marx e duas inquietudes para com esse novo estilo de vida emergente já no século XIX.

Retomando o objeto inspirador para este comentário que foi o caso Geyse e finalizandoo de forma um tanto satírica, podemos afirmar que o vestido da 'célebre' estudante pode ter sido curto, mas a repercussão produzida pela mídia é para lá de longa....

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O especatular cotidiano videográfico

A veiculação de vídeos gravados através das mais diversas parafernálias tecnológicas digitais que compõem as chamadas novas tecnologias da comunicação está se tornando uma rotina na imprensa brasileira e de todo o mundo. Gravados, em sua maioria, por aparelhos de celular, os arquivos audiovisuais vem fazendo parte da pauta diária da grande mídia jornalística abrindo um espaço cada vez maior para o chamado segmento do jornalismo participativo, no qual, o uso das mídias sociais, têm revolucionando o universo informacional.

Por outro lado, a freqüência e intensidade da veiculação de vídeos em veículos de comunicaçaõ de massa reforça cada vez a sensação de todos estarmos vivendo sob constante vigilância eletrônica, perdendo a cada dia, a privacidade. É a transformação do mundo comum e ordinário para o fantástico e espetacular mundo da publicização, onde cada espaço que ocupamos - não importa se nos lares ou nas ruas- se torna um pedaço do incomensurável palco rodeado de platéia por todos os lados. O fenômeno ressalta algo já demasiadamente apontado por diversos estudiosos da sociedade moderna que são os múltiplos e paradoxos efeitos das novas mídias no cotidiano dos cidadãos.

Se de um lado, muitas das gravações – como as que assistimos diariamente nos telejornais – trazem a tona denúncias de abusos, infrações e atos moralmente condenáveis, de outro, revela a falta de limites éticos e morais que o uso das novas tecnologias tem imposto nas relações sociais no mundo contemporâneo. Mundo esse, aliás, como se pode observar, está avançando a passos largos na banalização do espetáculo, conforme, aliás, já previam diversos estudiosos.

Trata-se do desdobramento da suplantação das imagens de que nos alertava no século passado, Guy Debord, um dos primeiros a chamar-nos a atenção para as idiossincrasias da chamada sociedade do espetáculo. Sociedade esta regida sob a égide do olhar do 'grande irmão' de que nos falava George Orwell. Olhar este que a cada instante cobre a todos, transformando a vida cotidiana dos cidadãos comuns, numa espeteacular experiência videografiados.

Fenômeno este que, certamente, ainda renderá centenas de milhares de comentários e discussões dentro e fora do universo cibernético e sobre o qual, ainda voltaremos a abordar aqui, neste espaço - também espetacular - certamente, por diversas vezes...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A peleja dos jornalistas com os donos da mídia

A luta dos jornalistas para a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que restitui a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão está demonstrando, de forma clara e transparente, a quebra de braços da categoria com os donos dos grupos oligopólios da mídia no país e, o interesse destes em derrubar a tentativa dos profissionais de imprensa de rever um direito garantido por lei e que foi derrubado este ano, de forma surpreendente.

A votação da PEC dos jornalistas – como está sendo chamada – agendada para outubro, foi adiada já por duas vezes, deixando patente a influência dos donos da mídia junto aos poderes constituídos, como, aliá, ficou evidente na votação do STF, em junho. A última data, agendada para o dia 21 de outubro, foi adiada, de última hora.

Conforme o texto extraído do site na FENAJ, ao contrário do que se esperava a Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados não apreciou a PEC 386/09. Numa iniciativa protelatória, o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) apresentou voto contrário a PEC dos Jornalistas no dia anterior. Apoiadores da proposta concentrarão esforços para que a proposta seja votada na reunião da CCJC do dia 4 de novembro.Diz ainda o texto que “Identificado com os interesses dos empresários de comunicação, na justificativa de seu voto em separado Zenaldo Coutinho usou os mesmos argumentos das entidades patronais para se posicionar contra a PEC dos Jornalistas. Sua iniciativa se coaduna com a estratégia empresarial que, na semana passada, através da publicação de artigo da presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, em veículos de comunicação de todo o país, buscou influenciar o posicionamento dos membros da CCJC”.

É preciso muita reflexão para concluirmos o final dessa história, ou mesmo, desvelarmos os reais interesses que estão por trás de tantas adiações. Vale lembrar que a votação contra o diploma também havia sido adiada por diversas vezes, culminando com o resultado lastimável que toda a sociedade brasileira foi testemunha e também vítima.

Aguardemos os próximos capítulos!.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mídia e o perigo da telerrealidade

Não há como deixar de comentar neste espaço voltado à uma análise crítica da mídia, o episódio divulgado recentemente em todo o mundo, envolvendo uma farsa montada por uma família nos EUA montada a partir de uma falsa informação de que um menino de apenas seis anos estaria voando sozinho pelo céu do Condado do Colorado, o que terminou mobilizando as autoridades policiais e a imprensa daquele estado norte-americano. Como se viu, em seguida, tudo não passava de uma tentativa de se conseguir a atenção da mídia, conseguindo-se ao máximo de publicidade, por meio um espécie de reality show.

Apesar de não sair como o planejado, o episódio, ao que se pode observar, terminou promovendo a família Heene na mídia, por meio de uma espécie de reality show mantido, desta feita, pelos veículos de imprensa de várias partes do mundo, para os quais, o evento se tornou uma pauta geradora de audiência constante.

Contudo, o mais marcante do acontecimento, na leitura que fazemos, é o fato deste ter evidenciado, de forma curiosa, as conseqüências sociais da febre que se tornou os programas de reality show´s, no seio, justamente, da nação da indústria midiática do entretenimento, que são os EUA. Não seria o momento, de a sociedade norte-americana, refletir e repensar a relevância que estão dando à disseminação desse tipo de produto midiático, hoje, propagado em praticamente, todo o mundo, gerando uma verdadeira paranóia em torno da corrida pelos holofotes?. Mais do que isto, não seria o momento de ser repensar a dimensão das irradiações da cultura midiática no mundo real?.

Conseqüente da famigerada e acelerada construção da telerrealidade - realidade paralela vivencida através da tela, como ressalta Bourdieu-, e da persistente expansão da corrida pelos tão almejados ‘15 segundos de fama’, agora, por horas e dias de evidência na telinha, a propagação desse tipo de produção midiática, chama a atenção não só dos norte-americanos, mas de toda a sociedade moderna para esse fenômeno cada vez mais evidente e, como vemos, perigoso, que é a banalização da vida real e supervalorização da vida espetacular.

Que o digam os pais do menor voador do ‘balão mágico’, Richard e Mayumi Heene, para quem o sonho de se tornarem famosos saiu como um tiro pela colatra, tornando-s eu pesadelo do qual eles terão que pagar um preço alto. Isto sim, é real, e não espetacular!.

sábado, 17 de outubro de 2009

Comunicação em pauta

Retornando a um tema já abordado neste espaço, comunicólogos, militantes sociais, intelectuais e representantes de diversos segmentos da sociedade civil organizada estão se mobilizando em torno da fase preparatória para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM). As conferências municipais estão se realizando em diversas cidades do país tendo como objetivo, discutir e formular propostas de políticas públicas comunicacionais para serem apresentadas posteriormente nas conferências estaduais e, por conseguinte, na etapa nacional que acontecerá entre os dias 14 e 17 de dezembro.

Em Campina Grande, atendendo a um decreto de convocação assinalado pelo prefeito Veneziano, no dia 22 de setembro, a conferencia municipal de comunicação aconteceu nos últimos dias 16 e 17 no auditório do Teatro Rosil Cavalcanti. O evento, que teve como tema central: “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”, contou com a participação de um público de aproximadamente 100 pessoas entre estudantes, professores, representantes de movimentos sociais e alguns populares.

Na ocasião, foi proferida uma palestra com a militante social Roseli Goffman, membro de várias entidades, dentre elas, o Conselho Federal de Psicologia – CFP, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC e Comissão Organizadora da Conferência Nacional de Comunicação – CONFECOM. Na ocasião, ela falou sobre um dos temas considerados mais polêmicos envolvendo a democratização da comunicação que é o controle social da mídia.
Apesar da representatividade que se fez presente, o público esteve abaixo da expectativa em número e diversidade.

Além da baixa representação popular, o evento não foi prestigiado por alguma das categorias que, a priori, deveriam demonstrar um maior interesse pela discussão levantada na Confecom, a classe empresarial, dirigentes acadêmicos e profissionais da área da comunicação social.

Contudo, no primeiro caso, se trata de algo já aguardado uma vez que, como vem acontecendo em todo o país, os proprietários de emissoras de rádio, TV e jornais, não têm se demonstrado muito simpáticos com a iniciativa, até então, inédita no país e em cujo eixo central discursivo está o futuro da mídia no Brasil. Portanto, não é de se espantar que, sentar à mesa para se discutir as propostas advindas da sociedade civil organizada no que diz respeito ao processo de democratização da informação é algo ainda impensável para a categoria que ainda concentra o poder da comunicação em suas mãos. No que diz respeito, a ausência ou baixíssima representatividade dessa demais categorias, permanece a incógnita.

Como se pode prever, a 1ª Confecom ainda renderá muita polêmica e, sobretudo, conflito de poderes e forças sociais antagônicas em torno do processo de midiatização porque passa a sociedade em que vivemos. Algo que, vale ressaltar, é tão relevante como as demais discussões em torno das políticas públicas voltadas para as áreas de saúde, educação e segurança. Contudo, ao que se pode observar, esse cunho de relevância só será percebido pela sociedade em geral, quando a comunicação deixar de ser apreendida como um mero serviço e passar a ser aceita enquanto um patrimônio público e fenômeno global de conseqüências vitais para a vida de todos.

Nesse sentido, nunca é demais ressaltar que, na chamada era digital, cujos efeitos do redimensionamento das velhas e surgimento das novas mídias é algo que está apenas começando e que discutir o futuro da comunicação é uma necessidade básica para a qualidade de vida de todos. Só nos resta consciência plena desta realidade, pelo visto, ainda ignorada até mesmo pela maioria dos agentes sociais ativos da cadeia produtiva midiática.

Por essa razão, convocamos todos aqueles que por aqui navegaram para refletir e, mais do que isto, se engajarem nas discussões em torno dessa etapa preparatória da Confecom, cujo epicentro temático será o exercício da cidadania numa sociedade cada vez mais midiática e mitiatizada.

Para isto, nada melhor do que nos servirmos de instrumentos digitais essencialmente democráticos e revolucionários dispostos via rede mundial de computadores, a exemplo de blogs e sites, dentre os quais, destacamos para visitação os seguintes: http://proconferencia.org.br/; http://www.direitoacomunicacao.org.br/, e http://conferenciacomunicacaocg.blogspot.com/

Voltaremos a este tema, em breve!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Jornalismo Cidadão e os indicadores sociais

Jornalismo e os indicadores sociais

A Síntese dos Indicadores Sociais 2009, publicada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontando a Paraíba como o terceiro Estado brasileiro em concentração de famílias vivendo em situação de pobreza, representa mais um radiograma da realidade política de conseqüências socioeconômicas em que vive o nosso Estado.

Trata-se de uma notícia que, no contexto do jornalismo cidadão, deveria ser explorada ao máximo pela imprensa estadual, procurando cobrar da classe política não apenas respostas para esse quadro lastimável de indicador social, mas, sobretudo, solução para os problemas apresentados na pesquisa.

Os dados, referentes ao ano de 2008, mostram que 37,3% das famílias paraibanas que vivem em domicílios permanentes urbanos, sobrevivem com até meio salário mínimo por pessoa, patamar considerado pelo IBGE como situação de pobreza. Os números revelam o que está sendo viver nas cidades para onde, vale ressaltar, um número de pessoas cada vez maior, continua a migrar em busca de condições de vida melhor.

Afora os baixos salários, a falta de infraestrutura dos centros urbanos também revelados nos indicadores sociais, ressaltam o total descaso dos políticos para com os cidadãos, sobretudo, de baixa renda, para quem, o paliativo, conforme se vê, continua sendo apelar para o amparo divino. Não é a toa que as igrejas estão cada vez mais lotadas.

Pena que, ao contrário do que acontece com os fatos de natureza trágica, informações desse tipo não rendem uma cobertura jornalística extensa com um espaço maior nos noticiários diários. Trata-se de uma carência de que sofre toda a imprensa nacional para quem a prática do chamado Jornalismo Cidadão se restringe à criação de quadros temporários de prestação de serviços básicos para as comunidades que continuam desinformadas no que diz respeito aos seus direitos enquanto cidadãos eleitores. È o tipo de coisa que, enquanto não se mudar na imprensa como um todo, o descaso continuará reinando no campo das políticas públicas.

É preciso repensarmos o jornalismo enquanto a prática da responsabilidade social e não um mero mecanismo de registro de fatos e acontecimentos.Isso fica para os historiadores de quem estamos muito próximos no aspecto narrativo, mas distantes no papel social que nos compete.

sábado, 3 de outubro de 2009

Olimpíada 2016: nossa honra e glória dos outros

A vitória do Rio de Janeiro consolidando-se como sede para a Olimpíada de 2016 foi recebida pelos brasileiros em meio a um clima misto de festa e satisfação, mas também de espanto e receio. Além do orgulho patriota que, vale ressaltar, é compartilhado por todos os sul-americanos para quem, parafraseando o Presidente Lula: ‘nunca na história desse continente’ tiveram a honra de sediar o maior evento esportivo do planeta, a conquista, de fato, traz consigo algumas perplexidades que merecem uma reflexão de nossa parte.

A primeira delas diz respeito à vitória do Brasil frente a grandes potencias mundiais, a exemplo dos EUA e Tóquio as quais, além de contar com uma reserva financeira e estruturas físicas e logísticas indiscutivelmente mais satisfatórias para a realização do evento, oferecem um sistema de serviço público bem mais eficiente para os milhares de turistas e atletas que participarão do espetáculo.

Outro aspecto inquietante a ser levantado é que, além de não responder de forma concreta à maior parte das exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI), apresentando para tal apenas garantias que a cidade do Rio cumprirá com todos os 25 itens de obrigatoriedade expostos, o Brasil passou por cima da série das falhas e compromissos não cumpridos para a realização do Pan. Para colocar os Jogos Pan-Americanos de 2007 de pé, o Rio gastou bem mais do que estava previsto no orçamento e não entregou alguns pontos chaves do projeto, como a melhoria na rede de transporte. Nada assegura, portanto, que muitas das tais garantias não sejam novamente descumpridas.Como se não bastasse esses aspectos, como todo bom brasileiro sabe e costuma assistir via mídia, o Brasil continua sendo uma nação que não investe em esporte e cultura, desprezando, inclusive, o apoio aos seus atletas olímpicos, para quem continuar representando o país em eventos de caráter internacional é uma prova de sacrifício e verdadeiro amor á pátria. A situação em que se encontram os nossos ginastas olímpicos espelha muito bem esse quadro lastimável. Quem não se recorda do episódio recente da ginasta Jader Barbosa aparecendo chorando na mídia, reclamando da falta de apoio financeiro para cuidar de uma grave lesão no punho direito, problema este que a fez buscar ajuda dos fãs para seguir com o tratamento?. Isto sem falar nos atletas paraolímpicos, cuja situação é bem pior. É por essas e outras que o Brasil continua fazendo jus ao título de ‘o país do futebol’. Precisa dizer por quê?

Contudo, como se não bastasse, a preocupação maior por parte de muitos brasileiros entre os quais, eu me incluo, diz respeito a desproporção dos investimentos a serem feitos e já aplicados na corrida pelos jogos olímpicos (cerca de R$ 180 mil, de 1992 à 2009) em detrimento da falta de recursos para as políticas públicas necessárias, dentre essas, as próprias ações desportivas. Nesse sentido, distribuir igualitariamente os poucos incentivos na área que, é bom frisar, em sua maioria se concentra nas regiões sul-sudeste, é outro grande desafio do Governo brasileiro que, certamente, ainda está longe de resolver esta desigualdade não apenas econômica mas também sociocultural.

No tocante a desproporção de prioridade de investimentos na vida pública e esse contexto, é bom lembrarmos que a Olimpíada de 2016 vai custar cerca de R$ 25,9 bilhões. Parte deste investimento, vale ressaltar, irá para a rede hoteleira privada para amenizar o grande déficit de leitos que a cidade do Rio apresenta para comportar evento do porte de uma olimpíada. Um descaso de proporções gigantescas para uma cidade com o maior número de favelados do país.

Encerramos o comentário com uma afirmação do advogado Alberto Neto Murray, ex-membro do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), para quem “o Brasil tem outras prioridades e carências sociais para serem resolvidas, como educação, saúde, esporte para todos, habitação", conclusão esta um tanto óbvia para os brasileiros, até mesmo para aqueles que ainda se encontram sob o encanto do espetaculoso sonho olímpico.

Bom, mas enquanto essas necessidades não são suprimidas, vamos ao show, diga-se de passagem, o maior espetáculo do planeta que teremos a honra de sediar para todo o mundo, mesmo cientes de que, a glória, será das nações que subirão ao pódio por mais vezes, consagrando-se vitoriosas em medalhas. Paises esses que levam no peito não apenas o ouro, a prata e o bronze, mas, sobretudo, a lição de que uma Nação se faz com homens e atletas, esses autênticos ídolos patriotas. Para nós, o contento de que, a vitória em sediar a olimpíada 2016 faz com que acreditemos que, de fato, como bem disse o presidente Obama, Lula “é o cara!”.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mídia: controle x censura

Além de uma audiência muito abaixo da esperada, sobretudo se comparada à primeira versão, o reality show No Limite, da Rede Globo de Televisão, chegou ao fim tendo como resultado nada bom para a emissora, uma condenação fruto de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público no Estado do Ceará, lugar que serviu de cenário para a produção do programa.

A ação foi conseqüência de uma representação da União Internacional Protetora de Animais (UIPA) na qual constam as denúncias de maus tratos a animais num dos quadros que era apresentado no programa. No "mix de gincana com reality show", os participantes eram submetidos a comerem, entre alguns dos pratos que compunham o cardápio para lá de ‘bizarro’, ovos com feto de aves em formação. A idéia provocou o repúdio e ação dos militantes em defesa dos animais no Ceará, fazendo com que a Globo fosse forçada a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) – acordo judicial mediado pelo Ministério Público – para cessar os abusos contra os animais.

O fato trouxe a tona uma discussão em torno de algo que ainda necessita de uma atenção especial por parte da sociedade civil organizada no que diz respeito à atuação da mídia, sobretudo, através de programas de espetacularização como são os reality shows em sucesso no Brasil. Trata-se do controle público e social dos meios de comunicação de massa.

O episódio, como muito bem ressaltou Rogério Tomaz em artigo publicado no site do Observatório da Imprensa, em 22 de setembro, ilustra muito didaticamente os princípios e possíveis mecanismos de aplicação do conceito de controle público e social da mídia. Mas como tem acontecido, sempre que pautado este tema é de imediato rechaçado pelos grandes grupos de comunicação do país para quem controle social é e sempre será sinônimo de censura.

Contudo, longe disto, é importante ressaltarmos que o controle público e social se trata de uma prerrogativa legítima da sociedade que tem total direito e, mais do que isso, tem o dever de monitorar, criticar, reclamar e reivindicar ajustes e mudanças em programas e demais produtos gerados pela mídia que quase sempre objetivam única e exclusivamente, a audiência como retorno financeiros para as empresas de comunicação. A Globo que o diga, para quem os programas inseridos no modelo de reality show têm se revelado verdadeira ‘mina de ouro’.

Trata-se, como se pode ver, de um tema extremamente relevante para todos os cidadãos na era da chamada sociedade da imagem em que o espetáculo se apresenta como um dos principais recursos de audiência de faturamento comercial da mídia. Época em que, paralelo ao avanço do abuso da mídia em várias situações, também se vê crescer a força do monitoramento social e força dos movimentos sociais em prol de uma política de comunicação de massa democrática e respeitosa.

Voltaremos a abordar este problema em outras oportunidades, aqui neste espaço, contando para tanto, com a participação dos colegas internautas a quem convidamos para uma discussão mais aprofundada sobre a questão em pauta.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

TV pública em discussão

Depois de longas três semanas que, como diz um crítico amigo meu, em tempos pós-moderno se trata de um período 'jurássico', voltamos a este espaço para compartilhar com os diletos amigos internautas de mais um tema que julgamos ser do interesse de todos: A TV Pública.


O papel das novas mídias digitais no processo de socialização da informação e, sobretudo, na configuração da esfera pública neste século XXI , sem sombra de dúvidas, se constitui um dos acontecimentos mais importantes do século XXI, conforme nos alertam diversos estudiosos em todo o mundo. Por esta razão, o engajamento efetivo da sociedade civil na discussão em torno dos diversos fenômenos que compõem essa realidade será decisivo no que diz respeito ao processo democratização da comunicação. Dentre estes, um dos mais significantes é a implantação do sistema público de TV que no Brasil, começa a ser desenhado.

Nesse sentido, implantar um sistema público de tevê que valorize a diversidade cultural brasileira e incentive a educação através das tecnologias da informação com o pluralismo de opiniões e a cidadania, é o eixo central discursivo, do qual, todos nós cidadãos brasileiros devemos participar. A reação contrária que vem sendo esboçada por parte dos grupos oligárquicos de comunicação contra a efetivação da TV pública no país sinaliza um motivo a mais para a participação efetiva de todos.

Atentos a estas posturas danosas à democratização da comunicação, entidades civis e instituições diversas começam a se mobilizar em vários estados, em busca de discutir o futuro da televisão digital no Brasil. No que diz respeito à Paraíba, professores, pesquisadores, profissionais, estudantes de comunicação e toda a sociedade civil estão convidados a participar do 1° Fórum Paraibano de TVs Públicas na era digital. O evento é organizado pelo Pólo Multimídia da Universidade Federal da Paraíba e será realizado nos dias 13 e 14 de outubro, no auditório da Reitoria da UFPB, campus I, em João Pessoa.

Serão dois dias de debates sobre diversos aspectos em torno da implantação do sistema de TV´s públicas no país, destacando dentre muitos, o papel e a grade de programação desse novo modelo de televisão que, se bem fundamentado nos princípios democráticos, tratar-se-á de uma das muitas revoluções que a era digital sinaliza para a pós-modernidade.

O evento também será um importante oportunidade de o público conhecer as aplicações interativas para a TV digital, desenvolvidas pela equipe do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid) da UFPB, um dos centros de conhecimento tecnológico que contribuiu para a definição do sistema de TV digital recém-implantado em várias parte do país.

As inscrições para o evento podem ser feitas gratuitamente no site da UFPB (http://www.ufpb.br/). Confira abaixo, a programação:


Programação
No primeiro dia do fórum será realizada, às 9h30, a conferência “EBC e a Formação da Rede Pública de Televisão", com José Roberto Barbosa Garcez, diretor de Serviços da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). À tarde, às 14h, o professor Guido Lemos, coordenador do Laboratório de Aplicações em Vídeo Digital–Lavid/UFPB , falará sobre a “Interatividade na TV Digital Pública”.
Ainda no dia 13, às 16h, acontecerá o debate sobre a “Regulamentação, financiamento e propaganda nas TVs públicas”, tendo como palestrante Luís Henrique Martins dos Anjos, diretor Jurídico da EBC.

No segundo dia o fórum começa às 8h com uma mesa redonda sobre a “Produção audiovisual da Paraíba”, tendo Filipe Donner (assessor de Imprensa da IFPB), como mediador, e como debatedores Carlos Dowling (presidente da ABD-PB), João de Lima Gomes (coordenador do Nudoc/UFPB), Bruno de Salles (Pigmento Cinematográfico), Wilfredo Maldonado (coordenador do NPD-UFPB), Torquato Joel (Prac-Coex-UFPB), Carmélio Reynaldo (coordenador do LDMI-UFPB).

Às 9h começa o debate sobre “Programação Regional e Integração de Conteúdos”. A mediadora é a jornalista Madrilena Feitosa, da TV UFPB, e os debatedores são Rômulo Azevedo (professor da UEPB), Luís Lourenço (diretor de Programação/UFPE), Lena Guimarães (secretária de Comunicação do Estado), João de Souza Lima Neto (professor da UFCG), Lívia Carol (secretária de Comunicação de João Pessoa), Josimey Costa da Silva (superintendente de Comunicação da UFRN), Sandra Moura (diretora do Pólo Multimídia/UFPB), Indira Amaral (representante da Abepec), Gilson Ricardo (coordenador de TV e Rádio da Câmara Municipal de João Pessoa), e Giovanni Meirelles (editor da TV Assembléia/PB).

Às 14h, o pesquisador do Lavid/UFPB, Raoni Kulesza, vai realizar uma oficina com os participantes, oportunidade em que serão mostradas aplicações interativas para TV digital.

Às 16h, as discussões serão sobre o “Controle social da mídia”. Vão debater o tema Alexandre Guedes (presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PB), Luciano Bezerra Vieira (representante do Movimento LGBT), Glória Rabay (coordenadora do Nipam/PB), Maria das Graças Martins (do Conselho Regional de Psicologia/PB), Land Seixas de Carvalho (presidente do Sindicato dos Jornalistas/PB), Sonia Lima (Confecom/PB), Waldeci Ferreira das Chagas (coordenador do Movimento Negro/PB) e Marcela Sitônio (presidente da API). Annelsina Trigueiro, coordenadora do Curso de Comunicação Social da UFPB será a mediadora.


Parcerias
Para realizar o 1° Fórum Paraibano de TVs Públicas na era digital, o Pólo Multimídia da UFPB conta com alguns parceiros: EBC; LAVID/UFPB; DECOM-TUR/UFPB; Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Governo da Paraíba, Assembléia Legislativa do Estado, Prefeitura de João Pessoa, Câmara de Vereadores de João Pessoa,Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de Justiça da Paraíba, Agência 9Idéia, Sebrae-PB, Conselho Regional de Psicologia, Sindicato dos Trabalhadores em Ensino Superior da Paraíba-Sintesp/PB, Associação dos Docentes da Universidade Federal-Aduf/PB e o Diretório Central dos Estudantes (DCE/ UFPB).

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Veja e o MST

Veículo que, depois das últimas campanhas eleitorais para Presidência da República, revelou-se, escancaradamente a serviço da elite brasileira, a Revista Veja traz como manchete principal em sua edição nº 2128, do mês de setembro, mais uma reportagem tendenciosa contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Trata-se mais uma demonstração de ataque pesado em nome de um pseudo jornalismo investigativo.

Como das outras vezes em que o assunto é MST, a revista se dirige ao movimento rotulando-o de movimento criminoso e, mais novamente acusa o governo e outros segmentos da sociedade civil internacional de apoiarem os ‘crimes’ cometidos pelos trabalhadores sem terra.

Como os mais esclarecidos já sabem, esta não é a primeira nem será a última vez em que a Veja ataca o MST que, é bom ressaltar, nunca foi alvo de reportagens com outras conotação fora da bandidagem, em suas páginas. Essa postura da grande mídia que, vale ressaltar, tem no grupo da editora Abril – à qual pertence a revista Veja - um de seus maiores representantes - já se tornou objeto de estudo de diversos trabalhos acadêmicos realizados por várias universidades brasileiras. Em praticamente todos os estudos realizados, é concluído que o MST é totalmente ou parcialmente deturpado pelas matérias jornalísticas que ignoram o grande trabalho de assistência social que o movimento presta à milhares de famílias rurais totalmente desasistidas. Nesse sentido, está incluído o excelente trabalho de alfabetização e conscientização social, alvo, inclusive, de reconhecimento de diversos órgãos internacionais.

O crescente desenvolvimento organizacional do movimento que comemora 25 anos de luta consagrados por conquistas de avanço em defesa da reforma agrária no país, continuam a incomodar os grandes latifundiários do país, que vale ressaltar, é o segundo no ranking mundial de concentração de propriedade da terra.

Mas os desafios sempre são maiores que as conquistas. Dentre esses, está a luta para lá de desigual contra os grandes conglomerados de comunicação contra os quais perderam mais uma luta. Trata-se da queda da obrigatoriedade do diploma em Jornalismo para o exercício da profissão a pedido desses que, como se sabe, têm carta aberta para contratar qualquer pessoa para trabalhar em seus veículos em detrimento da formação crítica desses. Mas como dizem os militantes, a luta continua!.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

De olho na CONFECOM

Retornando a um tema já apresentado neste blog e que consideramos de extrema relevância para toda a sociedade brasileira, chamamos a atenção dos caros leitores navegantes para que acompanhemos com a máxima atenção os preparativos para a realização da 1ª Conferencia Nacional de Comunicação (CONFECOM). Agendado para o próximo mês de dezembro, o evento vem mobilizando pessoas do país inteiro envolvendo jornalistas e diversas outras categorias ligadas direta e indiretamente com o processo midiático. Tendo como proposta oficial a abertura para uma ampla discussão sobre os rumos da comunicação no nosso país, o caráter de interesse coletivo da proposta se vê a partir da escolha dos membros selecionados para a conferência e da definição do primeiro tema ser discutido: “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”. A questão será discutida por uma assembléia constituída por delegados representantes da sociedade civil organizada, dos quais fazem parte várias entidades de caráter pública e privada.

Contudo, como no Brasil toda proposta que se apresenta de cunho democrática e que parte da instância política é alvo de uma análise crítica e deve ser vista sempre pelo crivo do ceticismo, não poderia ser diferente com a Confecom. A começar pelo processo de escolha dos membros que farão parte da assembléia para a discussão. A portaria que define os organizadores da CONFECOM aponta 28 membros: 12 do poder público e 16 da "sociedade civil". Entretanto, destes últimos, 8 são representantes das associações das grandes empresas de comunicação do país. Outro detalhe tem chamado a atenção. De acordo com a Comissão Nacional Pró-conferência de Comunicação, os representantes dos grandes conglomerados de comunicação estão se negando a participar do evento. Os reais motivos de tal resistência, todos sabemos. È apenas mais uma nítida demonstração da postura antidemocrática e da face autoritária dos proprietários dos meios de comunicação do país, face esta, aliás, reforçada recentemente com o advento da queda da exigência do diploma em Jornalismo.

Paralelo a esta realidade que, já era de se esperar, diversas organizações da sociedade civil que lidam com comunicação já estão organizando reuniões para realizarem as etapas regionais. As etapas são realizadas através das Comissões Estaduais Pró- Conferênci. Tratam-se de espaços de mobilização e organização dos movimentos populares e organizações sociais que buscam envolver a sociedade em todas as etapas do processo de Conferência. Atualmente, mais de 400 entidades já estão envolvidas com as 23 Comissões Estaduais instituídas, algumas desde o início de 2008, outras mais recentemente.

Respaldados nas palavras do próprio Presidente Lula, para quem a Confecom será uma oportunidade histórica de participação da sociedade civil na forma como é tratado o direito à comunicação no Brasil, todos os cidadãos devem acompanhar esta que, no mínimo, pode ser vista como uma importante oportunidade de, pelo menos, discutirmos a realidade da comunicação de massa no Brasil, fazendo repercutir os anseios e insatisfações em relação à real situação da democratização da comunicação.

Para isto, não podemos nos esquecer de que a construção de direitos e da cidadania através dos meios de comunicação na era digital, tema da conferência, só pode ser realizada com a democratização radical dos meios de comunicação, com a revisão das concessões públicas de televisão e rádio para grandes empresas, realidade esta que espelha o quadro caótico do monopólio que rege a mídia no Brasil.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As consequências do estrago do STF

O debate em torno da decisão do STF em derrubar a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo continua gerando discussões em todo o país, em detrimento do silêncio orquestrado pela imprensa oficial. Paralelo às discussões envolvendo não apenas a categoria atingida pelo duro golpe oligárquico, crescem também as manifestações de apoio de diversos outros segmentos da sociedade civil à campanha de mobilização nacional em prol da reinstituição do caráter legal do diploma dentro da lei de regulamentação da profissão.

Tal reação demonstra claramente o fato já apontado por diversos estudiosos da comunicação e de outras áreas afins que defendem o avanço transparente do anseio democrático no seio da sociedade moderna. Sociedade esta que, diferentemente de antes, hoje conta com o auxílio de instrumentos essencialmente dialógicos, a exemplo deste espaço virtual, por meio do qual, pessoas do mundo todo compartilham idéias, opiniões e, mais do que isso, reformatam o seu pontos de vista sobre diversos temas e fatos, processo este não mais sob o domínio exclusivo da indústria jornalística.

É por meio de ferramentas virtuais como esta que podemos compartilhar de comentários lúcidos e esclarecedores, a exemplo do que reproduzimos, na íntegra, abaixo, de autoria de um dos mais aguerrido e prudente jornalista brasileiro ainda vivo: Alberto Dines. Vamos a ele:

O tamanho do estrago
* Alberto Dines

A "aula" do ministro Marco Aurélio Mello – veiculada na última edição televisiva do Observatório da Imprensa – sobre as duas recentes decisões do Supremo Tribunal Federal relacionadas com o exercício do jornalismo, entre outros méritos mostrou o grau de manipulação do noticiário pela grande mídia.No lugar de tornar o processo jornalístico mais claro, mais compreensível e mais eficaz, as duas decisões – fim da Lei de Imprensa e da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão – estabeleceram uma tremenda confusão.

A pretexto de restabelecer a normalidade democrática foram criados dois vácuos legais, rigorosamente injustificados, com enorme prejuízo para a magistratura que fica sem referências para a tomada de decisões e, principalmente, para a sociedade empurrada a um perigoso ceticismo no tocante à racionalidade da nossa Suprema Corte.Se os juízes iludiram-se, o problema é de Suas Excelências, mas se à cidadania não foram oferecidas as informações necessárias para avaliar a exata dimensão do que foi decidido pelo egrégio colegiado, a falha é da imprensa que, assim, abdica do seu papel institucional e desabilita-se como guardiã do interesse público.

Confusão simplista. Acontece que a imprensa (hoje chamada de indústria jornalística) era parte interessada nos dois casos. Não apareceu formalmente na proposta de extinção da Lei de Imprensa, mas estimulou, criou o clima, deu total cobertura ao autor da ação, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).No caso do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, a indústria jornalística foi parte, atuou direta e ostensivamente através de uma de suas entidades corporativas (o Sindicato de Empresas da Rádio e Televisão do Estado de São Paulo – SERTESP). Agora, quando começa a ficar visível o tamanho do estrago produzido pela afoiteza da maioria dos ministros do STF, as empresas de comunicação engavetam qualquer tipo de reflexão sobre o ocorrido. Aquele resultado de 8 votos a 1 é irreversível – ninguém discute – mas além de um placar conviria rever os principais lances daquela desgraçada partida.O voto do relator da matéria, ministro Gilmar Mendes, atual presidente do STF, deveria ser exposto, traduzido e discutido em detalhes. Uma imprensa evoluída e qualificada não admitiria que este lance histórico permanecesse envolto em suspeitas e dúvidas.

O Meritíssimo partiu de uma premissa errada ao endossar a tese de que a exigência do diploma para o exercício do jornalismo constitui um entrave à liberdade de expressão. Entusiasmado com a sua cruzada libertária, acabou com a profissão de jornalista no Brasil. Passou ao largo de diversos estatutos que sequer estavam mencionados na questão e passou uma borracha num pedaço da história política do país. Na realidade, fez tabelinha com a grande imprensa que em 2008 decretou a inexistência da história do jornalismo brasileiro. Agora, somos meros mestres cucas: quando nos for exigida uma qualificação profissional, basta escrever "sem ofício conhecido".O enorme saber jurídico do relator-presidente do STF não o animou a estudar os antecedentes históricos do caso que o Estado colocara em suas mãos: ignorou que no Senado romano já existiam jornalistas (diurnarii ou actuarii, redatores das Actae Diurnae), ignorou a designação de "redatores das folhas públicas" consignada por Hipólito da Costa em junho de 1808 e, como grande apreciador da cultura alemã, ignorou que em Leipzig, 1690, um teólogo de nome Tobias Paucer apresentou uma tese de doutoramento, De relationibus novellis – O Relato Jornalístico – comprovando a sua especificidade e suas diferenças com outros gêneros narrativos. Segundo Paucer, a publicação de notícias (novellae) tem uma técnica e uma ética próprias.Antes de determinar a extinção da profissão de jornalista confundindo-a simplisticamente com a questão do diploma, o ministro Gilmar Mendes deveria ter estudado a questão com mais cuidado e profundidade.

Para inteirar-se a respeito de Paucer, bastaria mandar comprar o recém-publicado Ética, Jornalismo e Nova Mídia, de autoria do jornalista, crítico e professor Caio Túlio Costa (Zahar, 2009, págs. 41-46), de onde essas informações foram extraídas.Acusações contra o establishmentDe nada adianta aquela formidável exibição de malabarismo jurídico nas 91 páginas do seu parecer, se o ministro Mendes não conseguiu compreender duas questões comezinhas e cruciais:1. O fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício profissional é apenas um aspecto da questão. A especificidade da profissão de jornalista é outra. O ministro Gilmar Mendes sabe que as grandes empresas jornalísticas mantêm há décadas cursos de aperfeiçoamento para formandos de jornalismo. Viu neles apenas uma prova da deficiência acadêmica, não conseguiu enxergar neste mesmo fato a demonstração cabal de que a própria indústria reconhece a especificidade do conhecimento para o exercício do jornalismo.2. Ao aceitar a ação proposta pelo Ministério Público Federal e o SERTESP, o ministro Mendes caiu na armadilha armada pelo seu vasto arsenal de conhecimentos.

No final da argumentação [o formato da íntegra fornecida pelo STF não permite a numeração das páginas], faz pesada carga contra as empresas de comunicação:"No Estado democrático de Direito, a proteção da liberdade de imprensa também leva em conta a proteção contra a própria imprensa". Ora, se a imprensa está envolta em suspeições por que razão Sua Excelência endossa as teses de uma corporação empresarial ainda mais suspeita?Como a sua fonte é portuguesa (ANDRADE, Manuel da Costa, Liberdade de Imprensa e inviolabilidade pessoal: uma perspectiva jurídico-criminal, Coimbra Editora, 1996, pág. 63), o ministro Mendes designa acertamente a mídia como os media e tasca as seguintes acusações contra o establishment jornalístico:** "...hoje não são tanto os media que têm de defender a sua posição contra o Estado, mas, inversamente, é o Estado que tem de acautelar-se para não ser cercado, isto é, manipulado pelos media..."** "...os meios de comunicação de massa já não são expressão da liberdade e autonomia individual dos cidadãos, antes relevam dos interesses comerciais ou ideológicos de grandes organizações empresariais, institucionais ou de grupos de interesse."** "...o exercício da atividade jornalística está invariavelmente associado à mobilização de recursos e investimentos de peso considerável. O que, se por um lado resulta em ganhos indisfarçáveis de poder, redunda ao mesmo tempo na submissão a uma lógica orientada para valores de racionalidade econômica.

"Os dispensáveisComo explicar tamanha contradição? Como conciliar este arrasador ataque aos grandes grupos de comunicação com o generoso acolhimento dos argumentos propostos por um sindicato de empresas do ramo beneficiadas por concessões públicas e notoriamente desatentas aos seus compromissos sociais?Esquizofrenia ideológica, exercício de retórica jurídica ou a certeza de que este relatório jamais seria publicado na íntegra em veículos de grande tiragem? Qualquer que seja a explicação – certamente haverá outras menos drásticas – flagrou-se a precariedade do processo decisório vigente nesta República.

O fim da exigência do diploma era uma fixação do empresariado jornalístico, obsessão alimentada pela má consciência do patronato durante os 21 anos de regime militar. Em 1985, ao invés da purgação saneadora, a exacerbação dos piores instintos acaba por extinguir a própria profissão de jornalista.A indústria e os industriais do jornalismo finalmente desfizeram-se dos industriários. Com o twitter são perfeitamente dispensáveis. Como diz José Saramago, com o twitter nos encaminhamos decisivamente para o grunhido. E o STF oferece o suporte legal.

*Jornalista, editor do Observatório da Imprensa.
Artigo publicado no Observatório da Imprensa em 28/7/2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

Jornalistas com diplomacia!

Como já era previsto, a recente atitude do STF em extinguir a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, mexeu afundo com o ‘brio’ dos colegas de profissão, abrindo margem para uma discussão plural por meio da qual se vê dos mais variados pontos de vistas sendo explicitados. Alguns mais sóbrios, outros nem tanto, mas todos, ao nosso ver válidos. Trata-se de uma reação em cadeia vista nos quatro cantos do país e que, muito mais que a indignação, tem revelado talvez mais do que nunca antes, a complexidade que toma conta desta que é considerada uma das categorias mais controversas existente no mundo.

E, claro que não poderia ser diferente, uma vez que estamos nos referindo aqueles que lidam com o exercício diário da palavra, na condição de arautos da informação, de representantes maiores da liberdade de expressão e de pensamentos. Condição esta, aliás, utilizada como principal argumento dos opositores do diploma em Jornalismo e apresentada de maneira para lá de equivocado pelos pareceristas do STF ao aprovarem a medida acima mencionada.

O fato é que o episódio em questão acabou por reacender uma discussão antiga e sem fim envolvendo, de um lado os jornalistas diplomados e, de outro, os jornalistas de fato respaldados na larga experiência no mercado de trabalho. Trata-se de uma fronteira delicada marcada por discussões acirradas e repletas de argumentos favoráveis a cada um dos lados, na incessante busca pela afirmação da legitimidade do ofício, com ou sem a chancela da academia.

Isto fica ainda mais evidente ao lermos os diversos comentários postados nos vários sites do universo online, onde jornalistas diplomados e não diplomados já deixaram de discutir a questão central da polêmica para emitir opiniões contrárias e, por vezes, conflitantes, acerca da postura dos colegas mediante a medida do STF. Os comentários deixam externar, mesmo que inconsciente, o clima de disputa e desrespeito que há tempos marca a divisória fronteiriça entre os dois lados.

Entre os vários pontos de vistas explicitados, está a condenação ao ato de protesto que vem sendo manifestado por vários colegas jornalistas diplomados que, levados pelo clima de indignação mediante a postura do STF e, em especial, a do representante maior, o ministro Gilmar Mendes, têm esboçado gestos mais severos contra este. Muito mais que uma mera representação de liberdade de expressão mediante um fato, a recriminação a tal atitude advindo de dentro da mesma categoria ressalta a falta de sincronia e o espírito de discordância que rege a relação dos membros que integram este mesma categoria cuja fragilidade a levou a sofrer a punição dos senhores ministros. E levará a sofrer ainda muitas outras, certamente, uma vez que um reino desunido, sempre será vencido!.

É sempre bom lembrar que na guerra, há várias frentes de luta. A cada uma, os seus instrumentos. Claro que o bom senso sempre deve nortear toda estratégia de luta, contudo, o respeito à diferença de pensamento e formas de atitude, ao nosso ver, deve permanecer resguardado. Até mesmo como forma de não se fragilizar ainda mais, esta já tão fragmentada e dispersa categoria. Com ou sem diploma, o que não podemos perder de vista, jamais, é a diplomacia!.
OBS: Vale dizer que não participei de nenhum dos manifestos por não concordar com as estratégias montadas, porém, defendo até a última instância o direito de todos de reagir conforme a sua livre consciência.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os novos rumos em torno da profissão jornalista

A recente discussão do STF em extinguir a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo como condição legalpara o exercício da profissão tem desencadeado uma série de reflexões distintas, a partir do episódio em destaque. Ao que se pode perceber, a discussão, de início restrita ao ato, no mínimo, criticável, dos juízes pareceristas perante o caso julgado vem se fragmentando através das diversas opiniões e análises mais detalhadas compartilhadas pelos jornalistas, professores e estudantes de jornalismo.

Incrementadas pela dinâmica comunicacional plural da rede mundial de computadores que, diga-se de passagem, mais uma vez tem se demonstrado um autêntico meio democrático de permuta de idéias, as discussões apontam para um olhar mais atento à questão central em torno da prática jornalística e que há tempo, vem exigindo uma atenção especial por parte de todos os que compõem este ofício.

Referimo-nos à reflexão sobre o perfil do jornalista no mundo contemporâneo com destaque para os desafios impostos pelas transformações não apenas de ordem técnico-operacional mas humanista, por parte das novas tecnologias da comunicação, as quais têm modificado o globo em que vivemos. E, nesse sentido, a discussão ganha outros rumos e proporções que vão muito além da decisão do STF, medida esta que, parafraseando Grabriel García Márquez, já vinha sendo considerada por muitos como a crônica de uma morte anunciada. E com certa razão.

Sem sombra de dúvidas, é em torno desta questão que residem os fatores reais de sobrevivência do jornalismo. Os aspectos que desenharão o destino deste ofício que nos arriscamos a dizer que, como nenhum outro, é tão frágil às transformações que atingem à denominada sociedade da informação. Dentro desta conjuntura, portanto, compreender, primeiramente as novas formas de sociabilidade geradas e/ou alimentadas pelos novos instrumentos e dinâmicas das novas tecnologias comunicacionais passa a ser um imperativo para aqueles que se candidatam ao ofício de jornalista de fato e de direito.

Além do mais, não podemos perder de vista também o fato de que, independentemente dos rumos e resultados definitivos que esta polêmica em torno da suspensão da obrigatoriedade do diploma em jornalismo para o exercício da profissão venha a apresentar, estamos tratando de uma realidade que se arrasta por todo o país desde 2001, com a adoção do registro provisório que dá o direito de qualquer pessoa atuar em veículos de comunicação sem o respectivo documento e que mesmo sendo revogada a medida do STF, esta realidade continuará existindo por força da influência e poder exercido pelos donos da mídia em todas as instâncias políticas e jurídicas de nosso país. Trata-se de um duelo traçado particularmente entre esses e a esfera sindical da categoria jornalística que, diga-se de passagem, quem sabe a partir deste mais novo embate, passa a existir também de fato e de direito!.

Por fim, esperamos que estes e outros fragmento discursivo, olhares, em torno da problemática os quais se multiplicam a cada dia, sobretudo, por meio da internet e que tem nos professores, coordenadores, pesquisadores e estudantes de Jornlaismo uma das principais vertentes mais interessadas no desenrolar final de toda esta celeuma, venham a contribuir para uma consolidação em torno da questão central aqui descrita e que, consideramos vital para a sobreviência do bom jornalismo. E que venham os debates, colocando abaixo as omissões. O silêncio daqueles que, seja por comodismo, seja por quaisquer outros motivos de ordem pessoais e ideológicas, têm relevado esta discussão a uma 'quinta categoria'....

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Diploma em Jornalismo: algumas falácias

Por uma série de motivos de falhas técnicas, não foi possível postar novas mensagens no decorrer das últimas semanas no blog. Por essa razão inicio o comentário pedindo desculpas aos amigos internautas que compartilham deste web espaço e, em especial, aqueles que me reclamaram por novas postagens.

Dito isto, passemos ao assunto tema desta postagem sobre o qual temos nos debruçado nos últimos dias juntamente com colegas profissionais e estudantes de jornalismo do Brasil a fora. Referimo-nos ao ato insensato cometido pelo STF, há dias atrás, contra a categoria de jornalista, em nome dos grupos oligárquicos dos meios de comunicação que há tempo vêm tentando enfraquecer e desqualificar o exercício da profissão. E, neste sentido, claro que nada melhor do que colocar abaixo o diploma exigido para tal, conforme o episódio ocorrido em Brasília, apoiado numa série de argumentos para lá de estapafúrdios.

E é justamente sobre estes tais argumentos levantados pelos opositores do diploma em Jornalismo – incluindo dentre estes algumas celebridades do jornalismo brasileiro empregadas por alguns dos veículos de comunicação que compõem a grande mídia – que trataremos neste primeiro comentário sobre o tema.

Antes de irmos a este, entretanto, é preciso que se diga que, apesar de ter sido dado como um voto já vencido e irrevogável, conforme foi apresentado pela imprensa oficial, a questão não morreu por aqui e ainda promete levantar muita discussão (pelo menos isto...). É preciso que todos saibam que, além dos protestos realizados por jornalistas, professores e estudantes dos cursos de jornalismo, a luta pela valorização do diploma tem recebido apoio através de manifestos advindos de várias entidades representativas brasileiras, a exemplo da OAB, numa prova irrefutável do grande equívoco cometido pelos senhores juízes do STF. Afinal de contas, trata-se da quebra de um direito adquirido há mais de 40 anos, para ser mais preciso em 1962, quando foi legitimada a obrigatoriedade de formação específica na área, em nível universitário. Medida esta que só tem beneficiado a sociedade brasileira com a formação de profissionais melhor qualificados e conscientes do seu dever não apenas técnico mas, também ético mediante o processo de produção e difusão da informação de interesse público, que é o que menos importa aos detentores das concessões públicas de TV e rádio espalhadas pelo país - a maioria em mãos de grupos políticos mandatários. Em síntese, para estes, a função de jornalista se restringe a de mero segmentador da informação, e só. Se muitos dos profissionais diplomados fogem às diretrizes básicas do bom jornalismo, esta é uma outra questão que deve ser tratada, como, aliás, já vem sendo discutida pelas entidades representativas e instituições de ensino superior de todo o país. Neste sentido, é importante ressaltar que há meses estas vêm discutindo as novas diretrizes dos cursos de Jornalismo votando propostas para a melhoria do ensino e preparação dos novos profissionais em todo o país.

Mas enfim, este é um outro assunto especifico sobre o qual trataremos neste espaço numa outra oportunidade. Agora sim, expomos abaixo, alguns dos argumentos contrários ao diploma muitos dos quais foram apresentados pelos juízes em seus pareceres mediante a questão e que culminou com a cassação do diploma universitário em Jornalismo. Trata-se de trechos extraídos do livro “Formação Superior em Jornalismo – uma exigência que interessa à sociedade”, publicado em 2002, pela Federação Nacional de Jornalismo em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina. A publicação traz uma série de artigos escritos por professores e jornalistas profissionais discutindo o dilema em questão e que teve início em Em outubro de 2001, quando a juíza substituta da 16ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, Carla Abrantkoski Rister, em processo de iniciativa do Ministério Público Federal . Procurador da República André de Carvalho Ramos, concedeu .liminar. (tecnicamente tutela antecipada) extinguindo a obrigatoriedade da formação superior em Jornalismo para o exercício da profissão. A decisão reacendeu o debate sobre a necessidade e a especificidade da formação e sobre as implicações de ordem ética, técnica, estética e tecnológica do parecer da juíza, com suas conseqüências para a profissão, para a categoria e para a sociedade. Reproduzimos abaixo, um dos capítulos do livro:


Jogo dos sete erros: desmascarando algumas falácias sobre a regulamentação profissional dos jornalistas (Fred Ghedini)

1 . A legislação que regulamenta a profissão é ilegítima porque foi feita na época do regime militar.

É verdade que a base da legislação que regulamenta a profissão, o Decreto-Lei 972, de 17 de outubro de 1969, foi assinado pela justa militar que governava o país na época. No entanto, esse Decreto e a legislação posterior que o edificou (Lei 6.612 de dezembro de 1978 e Decreto 83.284 de março de 1979) responderam a um anseio dos jornalistas que, desde 1918, reivindicavam a implantação do ensino de nível superior para o jornalismo no país. Por isso, o movimento sindical dos jornalistas no país nunca teve dúvidas sobre a legitimidade de tal legislação, a ponto de confirmá-la integralmente, com algumas melhorias, no projeto de lei de criação dos Conselhos Federal e Regionais de Jornalismo, que está para ser enviado ao Congresso Nacional.

2 . A exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão se choca com a liberdade de expressão.

Esse tem sido o principal argumento dos proprietários dos veículos de comunicação e de todos aquele que procuram derrubar nossa regulamentação. O argumento é estapafúrdio pois confunde liberdade de expressão com o exercício da profissão de jornalista. É tão absurdo quanto dizer que todas as pessoas que não escrevem nos jornais, ou não aparecem no vídeo apresentando notícias em telejornais, ou não têm voz nos programas jornalísticas do rádio, têm sua liberdade de expressão cassada. Se assim fosse, a única forma de garantir a liberdade de expressão para a sociedade seria que todos os cidadãos praticassem o jornalismo, o que até poderia ser muito saudável, observados os parâmetros deontológicos da profissão, mas é
francamente impossível.

3 . A exigência do diploma é elitista pois restringe a profissão aos que têm acesso à faculdade.

O mesmo argumento serve para todas as profissões que têm em sua regulamentação a exigência de curso superior. É falacioso pois esconde que a sociedade em que vivemos é excludente e injusta, pois não assegura educação de qualidade para todos os seus integrantes, como aliás está na Constituição e deveria ser meta de qualquer governo sério. Jogar a culpa pelas enormes discrepâncias sociais existentes no país na regulamentação profissional dos jornalistas é algo que beira a má fé e só pode ser compreendido como um truque dos donos dos veículos, para enganar os menos avisados, ou de profissionais de outras áreas que olham para nossa profissão com uma certa inveja. Não está vedado a nenhum brasileiro que tenha concluído o ensino médio tentar uma faculdade de jornalismo. A barreira econômica que existe é a mesma para outras profissões tão importantes quanto a dos jornalistas, como por exemplo a dos juizes, que precisam fazer um curso de direito se quiserem trilhar esse caminho profissional. Na verdade, a exigência do diploma específico é hoje uma garantia de acesso universal à profissão. Do contrário, os donos dos veículos seriam também os donos dos critérios para dizer quem poderia ou não ser jornalista.

4 . Jornalismo é uma questão de talento.

Até a década de 50, antes da existência dos cursos de jornalismo, a profissão era vista como uma ocupação de boêmios, poetas e escritores. Gente talentosa, ou nem tanto. As pessoas aprendiam muito no dia-a-dia da profissão, com os mais velhos. Mas, desde então, tudo mudou: o ritmo do trabalho nas redações intensificou-se absurdamente, exigindo dos jovens profissionais que desempenhem seu trabalho sem titubear, desde os primeiros momentos na profissão. Nessas condições, passar pelo curso específico de jornalismo é a condição mínima para quem pretende ser jornalista. É lógico que essa formação deve ser complementada, seja com o aprofundamento na formação humanística, seja com especializações, o que obriga muitos jornalistas a fazerem mais de um curso superior, ou a freqüentarem cursos de especialização em outras áreas. Assim, nada impede que pessoas talentosas façam o curso superior de jornalismo.

5 . A profissão de jornalista não requer qualificações profissionais específicas. Basta saber escrever. O resto se aprende em poucas semanas de prática.

Para ser jornalista, é preciso bem mais do que talento no trato com as palavras. É preciso ter um conhecimento amplo sobre cultura e legislação; uma formação sólida sobre os valores éticos que fundamentam a vida em sociedade e que consolidam as conquistas da civilização; o conhecimento das regras deontológicas da profissão, como por exemplo ouvir sempre as várias partes interessadas em uma disputa; uma disciplina quase que doentia para checar as informações antes de divulgá-las. Além disso, é preciso que o profissional adquira conhecimentos técnicos, necessários para entrevistar, reportar, editar e pesquisar os assuntos mais variados. Mas, para ser um batalhador da verdade, é preciso tudo isso e mais um pouco. O jornalista precisa ter condições de olhar criticamente os processos sociais, inclusive dos meios de comunicação de massa. Isso permite que o profissional veja sempre de vários ângulos as questões que estão sendo tratadas e não embarque, ingenuamente, na primeira versão. O curso de jornalismo deve servir para cultivar esses valores e essas práticas nos jovens que pretendem trabalhar na profissão. Essas são as exigências para a formação do jornalista, e são importantes para que a população receba uma informação de qualidade.

6 . O Brasil é o único país do mundo em que existe a exigência do diploma de jornalismo. Nos países desenvolvidos, essa exigência não existe.

É verdade que o Brasil é um dos poucos países do mundo em que a regulamentação da profissão é baseada na exigência do diploma. Mas, o que se deve questionar é se essa exigência é boa ou ruim, uma vez que as sociedades não estruturam seus corpos legais e jurídicos simplesmente copiando o que há nos outros países. O que sabemos é que em todo o mundo tem aumentado de forma consistente e permanente o número de jornalistas que passaram por uma formação em curso superior específico. Por outro lado, os donos dos veículos no Brasil formam um dos grupos mais poderosos, corporativos e privilegiados, com inúmeras ramificações no parlamento e uma existência incestuosa com o poder. Essa situação não se repete nos países mais desenvolvidos, onde há legislações rigorosas colocando limites aos poderes dos donos dos meios de comunicação, particularmente dos meios eletrônicos. Tudo isso transforma a exigência do diploma em jornalismo no Brasil na forma que temos hoje para garantir a liberdade de expressão para a população, universalizando o acesso à profissão e impedindo que esses proprietários venham a ser, também, os donos das consciências dos profissionais que trabalham nas redações dos jornais, TVs, rádio e portais noticiosos do país.

7 . Os cursos de jornalismo são de má qualidade. Portanto, exigir o diploma específico é criar uma reserva e um incentivo para um ensino ruim.

Em primeiro lugar, não é verdade que o ensino de jornalismo seja ruim. Existem escolas de todos os níveis de qualidade. Depois, o ensino, no Brasil, passa por maus momentos, em todas as áreas, em todos os níveis. A política geral do MEC privilegia a quantidade em detrimento da qualidade, ao mesmo tempo em que deteriora o ensino público, favorecendo o ensino pago. Em conseqüência dessa política, o nível do ensino vem decaindo ano a ano no país, não só no ensino superior, mas também no ensino fundamental e no ensino médio. Partir dessa constatação, para ficar nisso mesmo, não traz nenhuma possibilidade de melhora. Argumentar que os cursos são ruins e
portanto não devem ser obrigatórios, é aceitar sem reservas que as autoridades do país não tenham nenhum responsabilidade no sentido de fiscalizar a qualidade do ensino, acreditando que as leis do mercado vão operar positivamente na direção da melhora do ensino. A se dar crédito para esse tipo de argumento, não deveria ser obrigatório o diploma em nível superior para nenhuma profissão. Em contrapartida, seria uma atitude bem mais responsável, socialmente falando, criticar a qualidade do ensino e se envolver nas iniciativas necessárias para melhorá-lo. No caso do jornalismo, essa obrigação é dos estudantes e professores de jornalismo, mas também dos jornalistas profissionais, de seus Sindicatos e da Federação Nacional dos Jornalistas, que têm patrocinado nacionalmente o movimento pela qualidade do ensino do jornalismo. Das empresas de comunicação, que lucram com o trabalho dos jornalistas. E de todos os cidadãos conscientes da importância que tem a informação de qualidade para a própria democracia.