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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Jornalismo e o apelo mercantil ao sensacionalismo

Comungo em grau, número e gênero, com o pensamento de muitos colegas jornalistas para quem, a exemplo do que foi postado recentemente no portal www.observatoriodaimprensa.com.br, por Valério Cruz e Ederson Silva, a prática jornalística brasileira contemporânea tem migrado para um caminho perigoso quando viu no sensacionalismo um padrão para atingir grande parte da população. Em nome dessa estratégia de cunho meramente mercantilista, muitos dos grupos hegemônicos de comunicação espalhados por todo o país vem lançando, via meios eletrônicos e impressos, produtos informativos esdrúxulos, totalmente contrários à prática do bom e autêntico jornalismo. Que o digam os jornais tabloides sensacionalistas. Um fenômeno que aqui na Paraíba é muito bem representado, diga-se de passagem, pelo “Já”, publicação pertencente ao Sistema Correio de Comunicação, considerado o ‘caçula’ do grupo (só tomara que este nunca chege a idade adulta..).

Essa investida no que se convencionou chamar de ‘jornalismo popular’ é algo totalmente passível de muitas reflexões e críticas. A começar pelo próprio rótulo com que tais produtos são apresentados, a meu ver, pra lá de discutível. O paradoxo começa se compararmos a forma com que o termo ‘popular’ é aplicado de maneira distinta no mundo midiático em que, por exemplo, na Música Popular Brasileira é sinônimo de qualidade, erudição e bom gosto, ao passo que no jornalismo, o ‘popular’ passa a significar o inverso. Afinal, a que tipo de popularidade esses se referem, ou, o que de fato significado o rótulo ‘popular’ para a mídia?

Outro questionamento a ser feito em se tratando dessa expansão do jornalismo sensacionalista é o seguinte: sendo a informação o seu principal produto, até que ponto a sociedade é informada verdadeiramente quando temas como violência, prostituição, drogas e crimes hediondos são a prioridade desses veículos, transformando, como muito bem explicita Valério Cruz e Ederson Silva, “notícias e reportagens em espetáculos”?. Não é preciso irmos muito longe para percebermos que, por trás dessa estratégia, está a visão do grupo hegemônico maior da nação que é a elite, para quem, “povo” é sinônimo de massa desqualificada e de manobra, ora para fins eleitoreiros,outro para fins, meramente mercantilistas.

Assim, a promoção do direito à cidadania, à igualdade e à informação de qualidade são simplesmente descartadas, tornando a prática jornalística como um mero artifício a serviço pleno de fins capitalistas de natureza desumana, cruéis. Ao se investir no denominado “circo dos horrores”, como é adequadamente denominada a prática sensacionalista que toma conta de boa parte da imprensa brasileira, o jornalismo contraria a sua própria filosofia e código deontológico, passando a explorar o que há de mais frágil na alma humana. Tudo em nome do aumento das vendas de jornais e do ibope nos programas de TV´s. E assim nos vemos diante de mais um exemplo de práticas que, como diz o trecho de uma das mais belas canções da nossa MPB (?), revela “... a força da grana que ergue e desaba, destruindo coisas belas”. É o que temos visto acontecer com o jornalismo. Uma das mais fascinantes propostas de transformação social mas que se encontra cada vez mais na contra-mão de sua filosofia...