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terça-feira, 20 de março de 2012

O tecnicismo preocupante da imprensa moderna

Entrevistado nesta segunda-feira, 19, no programa Roda Viva da TV Cultura, ocasião especial em que completa 60 anos de carreira profissional, o jornalista Alberto Dines, fez - como é típico de seu perfil - uma série de reflexões acerca da práxi jornalística contemporânea, emitindo sua opinião sobre vários dos aspectos que considera como preocupantes sobre a imprensa brasileira.

Dentre as críticas feitas pelo experiente e um dos mais críticos costumaz da mídia, está o que ele denomina de tecnicismo reinante na imprensa atual e que, em suas palavras, encobre a paixão, o entusiasmo e a eferevescência do autêntico e bom jornalismo ou pelo menos do que se pode chamar da filosofia original do jornalismo. No bojo de suas considerações nesse sentido, Denis ressaltou como exemplo a falta de apuração detalhada das informações, algo cada vez mais comprometido na grande mídia pela avalanche de notícias que transborda a cada segundo dos mais diversos veículos de comunicação de massa, consolidando a cultura do fast food informacional.

Concordo plenamente com Dines. Vejo nesse fenômeno cada vez mais marcante da indústria informacional contemporânea, como costumo frisar em sala de aula, um dos aspectos mais danosos do jornalismo atual cuja função parece cada vez mais se restringir à publicização do 'new', do agora, ou seja, ao efemeridade da notícia. Não é preciso irmos muito longe para constatarmos que se faz necessário ir de encontro a esse processo de saturação da informação que, como atestam vários estudiodos da comunicação social, está provocando um dos fenômenos mais paradoxais da atualidade que é a desinformação funcional. Algo que, de maneira similar ao que conhecemos por analfabetismo funcional, aponta para uma ineficiência do cidadão diante da necessidade de compreensão do mundo.

Como nos demosntra sem nenhum excesso de saudosismo ou proselitismo ao passado, Leão Serva em seu livro "Jornalismo e desinformação", essa é uma realidade que deve ser combatida, sobretudo, se considerarmos estarmos todos vivendo sob a égide da sociedade da informação, quando em nenhuma outra época da história da humanidade o componente informacional foi valorizado com tanta intensidade. Do contrário, como nos aponta o artista uruguario Marco Maggi, estaremos todos inseridos numa eterna "sociedade da informação disfuncional em que a realidade se faz ilegível".

Portanto, como alertam vários autores e estudiosos e críticos da comunicação, essa nova geração de jornalistas e de demais profissionais preparados para lidar com a sociedade informacional precisa se posicionar acima dos maravilhosos recursos tecnológicos de captação, edição e publicização da informação, apoiando-se para tal no talento que é algo, como sabemos, independe em grande parte de tais recursos e que termina fazendo toda uma diferença...

Como declarou recentemente em entrevista concedida a um veículo de comunicação, o jornalista Roberto Cabrine - na minha modesta opinião, o melhor exemplo de repórter que temos ainda vivo na imprensa brasieira -, não se pode pensar em jornalismo sem se priorizar um dos cuidados básicos e essenciais para a construção de uma boa matéria que é a apuração. E para uma boa apuração, não há recurso mais eficiente que e o faro, a inteligência, astúcia e a sensibilidade humana. Fatores que, aliados às novas tecnologias, sem sombra de dúvida, podem fazer resgatar o bom jornalismo de que tanto necessita a sociedade em toda parte.