Sejam Bem Vindo (a)!

Mostre que você não apenas é observado, mas também um observador da mídia...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Chico e a intolerância cultural na mídia radiofônica

A declaração feita há alguns dias pelo secretário de Cultura do Estado, Chico César, sobre a não contratação, por parte do Governo do Estado, das chamadas bandas de forró estilizo, estilo esse citado por ele mesmo de “forró de plástico’, trouxe a tona, mais uma vez, uma discussão que, há anos, divide opiniões e aponta para a polêmica dicotomia entre o forró autêntico x forró eletrônico.

Mais muito mais do que isso, ao emitir uma nota esclarecendo o seu ponto de vista sobre a questão e, assim, deixar mais claro a postura dele e do Governo Ricardo Coutinho sobre o fato em si, Chico teceu uma crítica à mídia radiofônica paraibana.
Para ele, que vem sendo classificado por intolerante por alguns pelo fato de não gostar e até repudiar esse tipo de estilo musical moderno, intolerância mesmo é “excluir da programação do rádio paraibano (concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Parrá, Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Dejinha de Monteiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina, Fuba de Taperoá, Sandra Belê e excluí-los de novo na hora em que se deve celebrar a música regional e a cultura popular”.

Não há dúvidas de que, não são poucos os paraibanos que, assim como o autor deste blog, coadunam em número, grau e gênero com o pensamento do compositor, cantor e militante político e cultural. Já está mais do que na hora de vozes de dentro da esfera política se levantar contra esse que é um dos maiores descasos para com a legítima expressão da nossa cultura.

Isso sem falar na discrepância dos valores dos cachês pagos às chamadas bandas de forró eletrônicos e duplas de ‘breganejos’ a que se dá o nome de sertanejo, uma outra agressão à legítima e riquíssima música e cultura sertaneja.

E, como se não bastasse esse fator de desnivelamento de valores financeiros, há ainda o longo atraso no pagamento dos denominados 'artistas da terra' que, assim como deixa a entender a própria designação, quase sempre ficam a rastejar, feito minhocas, a suplicar às secretarias de turismo e cultura municipais espalhadas pelo Estado, pelo pagamento de seus insignificantes cachês.

Que o diga a realidade dos trios de forró que tocam nos festejos juninos no interior do Estado durante, sobretudo, a festa de São João e que já se acostumaram a enfrentar essa triste realidade. Esses que permanecem fora dos padrões de consumo estipulado pela indústria contemporânea de entretenimento sustentada por uma lógica puramente mercadológica, da qual, as empresas radiofônica são as maiores parceiras no processo de difundir massivamente os tais novos produtos musicais. Uma lógica mercantil que, além de excluir os legítimos elementos de nossa identidade cultura, a exemplo do que era cantado por Luiz Gonzaga e tantos outros - fomenta a disseminação da vulgaridade e ridiculariza os sentimentos nobres, presentes em toda expressão da boa arte.

Por isso mesmo, parabenizo o nosso fiel e renomado representante da boa música popular brasileira (e nordestina) pelas declarações. E mais, ainda pela postura a frente da pasta em que lhe foi confiada e que, esperamos, agora na esfera estadual, possa levantar a moral dos nossos maiores representantes no cenário da legítima cultura musical local e regional.