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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O caso Geyse: vestido curto e mídia longa

O episódio envolvendo a estudante Geyse Arruda, hostilizada pelos colegas universitários da Uniban, no último dia 22 de outubro, por adentrar na instituição comum vestido curto, vem deixando uma série de lições aos olhos dos mais atentos às mudanças impressas no cotidiano através dos holofotes midiáticos.

A primeira e mais óbvia de todas é a gerência da cultura midiática sobre o cotidiano, selecionando os fatos e temas que se sugerem ser de maior relevância para o conhecimento de todos os cidadãos. Nesse sentido, fica cada vez mais patente a banalização que hoje impera na indústria da informação, fato notório por meio do amplo espaço que continua sendo dado ao caso mencionado.

Diferentemente do que acontece com fatos de interesse público e de grande impacto nos rumos da sociedade, como alguns problemas sociais já evidenciados neste espaço, os noticiários optam pelo desdobramento de fatos pitorescos, exóticos e de cunho particular.

Por outro lado, o caso Geyse vem se revelando uma janela por meio da qual é possível aferir o grau de significância do poder da esfera midiática na sociedade moderna que, como já foi dito aqui por várias vezes, vem moldando num ritmo cada vez mais acelerado e intenso, o cotidiano.

Não é a toa que a relação entre cotidiano e mídia, vem se tornando um dos principais objetos de estudo nos mais variados campos de estudo das ciências humanas. Os estudos trazem a tona, várias das teorias desenvolvidas nos últimos dois séculos quando a indústria da comunicação, ou indústria cultural como muito bem denominou a Escola de Frankfurt, passou a ser vista como algo muito além de uma mera fábrica de entretenimento.

Entre essas, está a Teoria das Representações Sociais desenvolvida por Moscovici em 1961, a qual se respalda nas contribuições do eminente sociólogo Émile Durkheim. Nesse sentido, é indiscutível a necessidade de reestudarmos muitas das noções apresentadas por este autor para quem representações sociais equivalem a fenômenos específicos que estão relacionados com um modo particular de compreender e de se comunicar. Assim, não é preciso irmos muito longe para identificarmos quem ou o que ocupa esse papel de produção de sentido nas relações sociais vigentes. Mais importante ainda: refletirmos acerca do estratégico processo de banalização do cotidiano. Ou seja, nos dizeres sociológicos: o processo de simplificação do cotidiano socializado pelas mídias.

Enfim, todos os fenômenos de audiência gerados pela mídia espetacular, a exemplo do último deles que é caso Geyse, parem estar ressuscitando muitos dos teóricos do passado que, apesar de sofrerem diversos tipos de críticas – algumas delas com razão – estavam corretos em muitas de suas previsões, firmando-se como verdadeiros profetas. Que o digam Marshal McLuhan, Martín-Barbero, Michel Certeau e o próprio Karl Marx e duas inquietudes para com esse novo estilo de vida emergente já no século XIX.

Retomando o objeto inspirador para este comentário que foi o caso Geyse e finalizandoo de forma um tanto satírica, podemos afirmar que o vestido da 'célebre' estudante pode ter sido curto, mas a repercussão produzida pela mídia é para lá de longa....