Para
além dos diversos aspectos e discussões de valoração social e política, a
crescente onda de manifestação cívica que toma conta do Brasil nos últimos dias
vem suscitando várias e importantes reflexões acerca do papel da grande mídia
na sociedade. Nesse contexto, muitas têm sido as observações críticas feitas ao
trabalho de cobertura jornalística desenvolvida em especial, pelas emissoras de
TV que continuam representando a principal vitrine midiática no país e no
mundo. Venho, por meio deste espaço, expressar a minha análise crítica pessoal
acerca deste fenômeno, o qual muito me incita na qualidade de profissional da
mídia, mas muito mais na condição de cidadão.
Não
é preciso ser um especialista para
perceber que observando atentamente a cobertura da mídia acerca do
fenômeno em destaque, a palavra de ordem tem sido vandalismo. Adotando um
discurso ambivalente, por vezes, contraditório e insustentável, a imprensa
brasileira tem enquadrado o manifesto enquanto um ato violento, insano e de
afronta à ordem e o progresso nacional. Algo que é atenuado por meio de um
recurso discursivo repetitivo que ressalva o protesto enquanto um ato formado
em sua maioria por cidadãos pacíficos e apoiado em bandeiras de lutas justas,
porém alvo de uma ação destemperada e criminosa de uma minoria.
Não
obstante, é interessante perceber que é justamente a ação desta minoria que é
amplamente destacada nas imagens e textos dos órgãos de imprensa. Algo melhor
ainda observado pelas transmissões de TV´s cujas lentes estão focadas em tais
grupos, estejam eles onde estiverem em detrimento da grande massa humana
pacífica sobre a qual essas mesmas lentes apenas passam rapidamente numa
angulação distante.
Para
além do sensacionalismo e tom de teledramatização que, como sabemos, impera na
mídia em todo o mundo enquanto um dos principais critérios de noticiabilidade,
os chamados valores-notícias, esse tipo de cobertura aponta para um outro fator
operante das empresas midiáticas que é o alinhamento ideológico sustentado por
estas.
Trata-se
aqui da grande lente angular, do filtro seletivo por onde passam todas as
diretrizes e políticas que regem o funcionamento dos órgãos de imprensa
enquanto empresas e como tais, entidades de fins lucrativos submetidas a uma série
de convenções estipuladas por uma macroesfera cruel que é o mercado.
Em
síntese, um conglomerado empresarial que mesmo atuando em nome do que chama de
prestação de serviço público, de fato, atua como uma das mãos mais severas
desse mercado. Basta ver o conchavo desses grandes conglomerados de mídias com
os governos e entidades multinacionais que tem nas transações publicitárias milionárias
firmadas através de contratos particulares, o mais explícito fenômeno denunciante.
Portanto,
é sempre bom, como, aliás, nos orienta o respeitável patrono da educação
brasileira, Paulo Freire, sempre questionarmos: em nome de quem fala esta ou aquela
empresa midiática? Quais interesses a rege? Só assim, compreenderemos melhor
esse papel dicotômico e ambivalente da mídia que insiste em falar em nome da
verdade dos fatos, mesmo sabendo-se que aquilo que esta chama de realidade nada
mais é do que uma mera versão de um fato. Assim se torna mais fácil compreendermos
melhor os rumos para onde essa gigantesca, inusitada e amedrotante onda de
protestos que toma conta do seio da pátria brasileira está sendo conduzida, ou melhor enquadrada.
Mas
como perguntar não ofende (será que não mesmo?!) onde estão as vozes dessa
maioria formada por pacatos cidadãos que ninguém escuta?. Aqui vai uma dica
para quem realmente deseja ouvir essa voz: continue procurando-a nas mídias
alternativas e que tem nas redes sociais, o mais autêntico e democrático canal
de comunicação. Pelo menos neste, a palavra de ordem não é vandalismo e sim civilismo!!.