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segunda-feira, 14 de julho de 2008

A PF nas raias da espetacularização

Vivemos, de fato, na chamada idade mídia. Uma era dominada pelos holofotes e artifícios midiáticos em que o anseio de se viver os 15 segundos de fama, parece contagiar toda as instâncias sociais, fomentanto cada vez mais, a espetacularização. E isso, vale ressaltar, vem abarcando não apenas os indivídios, mas instituições, entidades, enfim, agrupamentos sociais em geral. Uma das demonstrações claras deste fenômeno tem sido a ampla propagação, via imprensa, das operações da Polícia Federal, as quais vêm ganhando o tom e roteiro das propagadas séries norte-americanas, cujos mocinhos e bandidos passam a ser os protagonistas principais dos noticiários em cadeia nacional.

Trata-se, como todos podemos constatar, de autênticas manifestações espetaculares programadas através de uma parceria feita entre a PF e os principais veículos de comunicação. Que o diga, agora por último, o vazamento de partes do relatório sigiloso sobre a Operação Satiagraha que prendeu o banqueiro Daniel Dantas – operação esta repassada em primeira mão pela PF ao jornal Estado de São Paulo - e que continua preenchendo um generoso espaço da grande imprensa. A divulgação contou, inclusive, com a reprodução de partes do relatório da operação, via fac-símile, elemento este que incrementou ainda mais o espetáculo da ação policial.

Como muito bem frisou Alberto Dines em sua coluna no Observatório da Imprensa, este vazamento é mais grave do que a discussão sobre a espetacularização das prisões ou o confronto entre o presidente do Supremo Tribunal Federal e um juiz de primeira instância. Trata-se, de fato, de algo que está se tornando repetitivo e que, como bem sabemos, se de um lado, coloca a sociedade a par de um fato de interesse público – muito embora não vá mais além que isso -, de um outro, reforça uma postura totalmente anti–ética de uma instância que deveria primar pelo respeito às legislações, uma vez que, como sabemos, estamos nos reportando de ações que deveriam estar correndo em segredo.

Afora isso, como também frisou este importante representante do jornalismo contemporâneo já mencionado, a cena retrata o de sempre: “personagens de um interminável seriado. Mudam os montantes dos assaltos, mudam os ambientes e os truques, mas a história é a mesma: lucros fabulosos com operações altamente sofisticadas, sempre ilegais...”. Isto sem falar que os trambiques de Naji Nahas já têm quase duas décadas, Daniel Dantas protagoniza o noticiário dos escândalos há três lustros e o novato Celso Pitta enrosca-se em negócios escusos há quase oito anos.

Mas como também sabemos, sigilo de polícia e justiça no nosso país, só mesmo quando convém aos “podres poderes”. Infelizmente tem sido assim. Quando não, os detalhes das tais operações sigilosas são totalmente quebradas e reveladas pela força espetacular e explícita da mídia, por meio da qual, ao que parece, todo descumprimento de regras, normas e leis é justificável. Afinal, é tudo em nome do bem da sociedade...., ou não?!. Mas isto já é tema para um outro tema....

No mais, na condição de espectador, gostaríamos de finalizar este nosso comentário, deixando registrado aqui o nosso anseio de podermos assistirmos quem sabe um dia, as cenas dos próximos capítulos destes espetáculos. Referimo-nos aos capítulos, realmente inéditos que possam ir além das cenas dos atos de prisões em flagrante dos bandidos às quais estamos todos enfadados de assistir, colocando-nos a par da continuação destes episódios. Se possível, mostrando-nos os culpados atrás das grades dos presídios, e não apenas das delegacias....