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segunda-feira, 26 de março de 2012

Reportagem: o jornalismo por excelência

Considerada pelos estudiosos da imprensa como a essência do jornalismo, a reportagem continua sendo, sem sombra de dúvidas, o gênero jornalístico de maior contribuição cívica para a sociedade. Mais ainda quando se trata da reportagem investigativa também denominada de denunciativa, e que traz em seu bojo revelações, por vezes, bombásticas de interesse público. É por essa razão que, mesmo em baixa na imprensa nacional, sobretudo, se comparado à produção veiculada no país há algumas décadas atrás, esse gênero ainda é o ‘prato’ principal dos principais veículos de comunicação. Basta citar como exemplo na atualidade a concorrência das duas revistas eletrônicas dominicais de maior audiência no país que são o Fantástico, da TV Globo, e o Domingo Espetacular, da Rede Record. Estilos de programas que, vale ressaltar, mesmo por vezes arraigados em fórmulas e pautas repetitivas, se destacam na mídia brasileira como algumas das poucas – e cada vez mais raras - produções jornalísticas de qualidade e interesse realmente público que vão ao ar.


As últimas edições de ambas as revistas eletrônicas aqui mencionadas, justificaram bem o aqui é colocado, ao apresentarem, ao meu ver, duas reportagens extremamente interessantes para o telespectador. O Domingo Espetacular apresentou uma matéria sobre a situação deprimente em que se encontra o músico Renato Rocha, 49, ex-baixista de uma das maiores bandas de rock brasileira de todos os tempos, o Legião Urbana. Uma reportagem que certamente impressionou e sensibilizou os milhares de fãs do Legião Urbana que acompanharam os momentos de sucesso e glamour do músico que hoje, como demonstrou o programa, vive perambulando pelas ruas do Rio, a ermo e que nem de longe, relembra o Renato Rocha de outrora. Um retrato fiel, de um lado das sombras do egoísmo e da efemeridade que caracterizam o relacionamento das celebridades entre si, e de outro, de mais uma vítima entregue ao mundo alienante das drogas.


O aspecto mais humanístico e instigante da reportagem do Domingo Espetacular ficou por conta do contato feito com o pai de Renato Rocha que, por sua vez, afirmou não tomar conhecimento da situação precária em que o filho se encontrara, garantindo que iria ajudá-lo. Ou seja, um efeito direto provocado pela forma como a reportagem foi construída, a qual, vale dizer, foi além de outras matérias que retrataram o mesmo fato, a exemplo da Revista Isto É Gente, recentemente. Aqui está um clássico exemplo que distancia o ato de se noticiar algo e o de apresentar um fato em ampla dimensão visando, de alguma forma, intervir de maneira socialmente responsável, como deve ser sempre o papel do bom jornalismo.


Por outro lado, a principal concorrente da TV Record, a Rede Globo apresentava, por meio do Fantástico, uma reportagem denunciativa tendo como fato principal mais um escândalo envolvendo a cidade de João Pessoa. Tratava-se de uma denúncia fruto de um trabalho investigativo de mais de um mês, e que apontou para uma série de irregularidades em torno do projeto “Jampa Digital”, um programa lançado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia Municipal em 2010 e que, no papel, garantia ao acesso gratuito à internet em vários pontos da capital paraibana. Um projeto em que foi injetado cerca de R$ 5 milhões do Governo Federal e que envolve, entre diversos agentes públicos o governador do Estado, Ricardo Coutinho, então prefeito de João Pessoa e o atual ministro Aguinaldo Ribeiro, então secretário munciipal.


O que se viu por meio do que apurou a equipe de reportagem do Fantástico foi a revelação de mais um dos milhares de esquemas de corrupção que impera nas transações feitas entre os órgãos públicos e a iniciativa privada espalhados por todo o país, em que como quase sempre acontece, apontam, de um lado, para serviço fantasma ou no mínimo ineficiente e, de outro, desvio de verbas significativas em prol de interesses privados.


Os detalhes da reportagem denunciativa, como sempre acontece, repercutiram no seio social com uma ampla reprodução na mídia estadual que, por sua vez, continua se demonstrando apática para esse tipo de produção jornalística, se restringindo a reproduzir o que já vem pronto da grande mídia. Por trás desse comodismo aparente da imprensa local que continua a investir massiçamente na produção de noticias e, quando muito, em alguns casos, na publicação de reportagens de cunho meramente explicativa, está um tenebroso jogo de interesses próprios regido por um pacto silencioso. Algo a ser melhor comentado em outra oportunidade neste espaço.


Assim, ao se fechar para esse tipo de gênero jornalístico essencialmente cívico e humanitário, a imprensa paraibana permanece, infelizmente, como é fácil de se concluir, ainda extremamente distante da prática do jornalismo por excelência. E, como atesta a própria literatura especializada sobre a imprensa, jornalismo sem reportagem é jornalismo sem vida!.