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sábado, 23 de agosto de 2008

MÍDIA, ELEIÇÕES E TV: TUDO A VER!

Além das olimpíadas – conforme discutimos no texto anterior - , o Brasil está vivendo um outro fenômeno que revela, de maneira sine qua non, aos olhos do senso crítico, o papel central desempenhado pela mídia na sociedade moderna. Tratam-se das Eleições Municipais, as quais têm no emblemático Programa Horário Político Gratuito, a síntese do poder de mobilização e fascínio que a mídia televisiva continua desempenhando junto aos telespectadores. Analisar de maneira um pouco mais detalhada este, que aqui chamamos de ‘vírus’ PHPG (Sigla do Programa Horário Político Gratuito), é o objetivo deste artigo, por meio do qual convidamos o caro leitor internauta a mais uma reflexão acerca da incidência da comunicação midiática no processo de estruturação da contemporaneidade.

Para isso, faz-se necessário uma breve retrospectiva acerca da inserção contundente da mídia televisiva nos processos decisórios eleitorais ocorridos no Brasil. E, neste sentido, conforme apontam os diversos cientistas e pesquisadores dos fenômenos da comunicação, a eleição presidencial de 1989 pode ser tomada, para efeito de demarcação de fronteiras, como episódio cultural inaugurador das novas configurações da midiatização da política partidária.

Foi, sem sombra de dúvida, um acontecimento que se tornou paradigmático tendo em vista, sobretudo, como apontavam as pesquisas daquela época, o forte poder de penetração da TV nas camadas sociais. Basta lembrar que a amostragem nacional, realizada em 1989 e 1990 indicava que 86% e 89% dos entrevistados, respectivamente, tomavam conhecimento dos acontecimentos políticos através da televisão (desde 2001, a audiência oscila entre 31 a 42 pontos percentuais no Ibope, em São Paulo). Os altos picos de audiência televisiva, vale ressaltar, foram reduzidos, em conseqüência do avanço das novas mídias de informação que surgiram no país, a exemplo, principalmente, da Internet

Antes disso, as campanhas eleitorais eram pautadas por uma disputa comunicacional face a face ou ‘corpo a corpo’, como era mais conhecida. As estratégias giravam em torno de comícios,
caravanas, visitas, passeatas, e contato direto com os eleitores, configuração esta que tem nas campanhas presidenciais de Jânio Quadros e Henrique Lott, ocorridas em 1960, um de suas maiores representações.

Essas estratégias não desapareceram, mas certamente, sofreram alterações consideráveis, e passaram a ter na veiculação do PHPG, via TV, um canal primordial e de certa maneira, decisivo, para os resultados das eleições. Que o diga a emblemática eleição presidencial de 1989 entre Lula e Collor, que teve no episódio da escancarada manipulação da edição realizada pelo Jornal Nacional do último debate entre Lula e Collor, em benefício deste último, o seu ápice de revelação.

Embora de maneira bem mais sutil, continuamos a assistir episódios similares nos telejornais, programas de entretenimento e até novelas. Porém, de maneira explícita, vê-se muito mais nos PHGP veiculado nas emissoras de rádio e TV e que terminam por se tornar um momento pra lá de propício a este tipo de manobra ideológica. Isto tudo porque, a disputa acirradada pelos eleitores no mundo contemporâneo ocorre, não mais no espaço das vias públicas, mas sim, no espaço ‘público’ do visor eletrônico.

Tal realidade se torna tão explícita que a valoração do PHPG como meio decisório para se consagrar nas urnas é reconhecido enfaticamente pelos próprios candidatos, cujas falas ressaltam repetidamente o poder que este tem de reverter as estatísticas reveladas pelas pesquisas de opinião pública. Ou seja, mesmo sabendo-se que a TV já não exerce mais o mesmo poder de influencia de décadas atrás, esta continua sendo o principal instrumento de se chegar até a massa na tentativa de se reverter e converter idéias e opiniões.

Sem sombra de dúvidas, como apontam os diversos estudiosos dos efeitos da comunicação midiática, é através da tela que ainda se escorrem os ‘fios’ eletrônicos que tecem a imagem do político, processo este que, é bom que se frise, tem nas inteligentes estratégias de marketing, o seu conduto principal. Isto tudo nos leva a entender melhor o título jargão deste artigo que, por sinal, como é fácil de se perceber, faz uma menção paródica aquilo que a mídia televisiva ‘toda poderosa’ do plim plim tanto insiste em nos fazer conceber.