As discussões em torno da existência de um sistema de comunicação
essencialmente democrático e genuinamente cidadão tem evidenciado o uso repetitivos
de termos como: ‘jornalismo público’, ‘jornalismo cívico’ e ‘ jornalismo
cidadão’. Mesmo já tendo empregado particularmente, por várias vezes, tais
termos no exercício do ofício do magistério, confesso que, no âmago, sempre me
senti intrigado com essa dicotomia, no mínimo, intrigante. Há tempos tendo
compreender essa pluralidade neologística que separa do ofício jornalístico
esse que é o seu atributo mais essencial, o caráter de interesse público.
Para além da questão de complexidade conceitual, cujas
raízes históricas se encontram arraigadas a um movimento desenvolvido nos EUA
nos anos 90 como tentativa de resgatar a credibilidade dos jornais americano
perante os cidadãos, o uso repetitivo de tais termos evidencia o agravamento de
uma crise que se propaga no jornalismo, colocando, cada vez mais, em
xeque-mate, a práxis das organizações e profissionais que representam esse
valioso campo de intervenção social.
Assim, a medida que termos como ‘Jornalismo Cidadão’,
‘Jornalismo Público’ e outros similares se legitimam, se fortalece também de
forma paralela, a reprovação do que se denomina simplesmente de jornalismo,
cujo sentido original parece se diluir em meio à descrença de um público
consumidor cada vez mais crítico e exigente. Trata-se aqui de um fenômeno que
tem nas transformações porque passa a sociedade civil na contemporaneidade e,
em especial, dos serviços de comunicação a que essa tem tido acesso, o cerne da
questão.
Nesse contexto, a discussão em torno de tais
subcategorias jornalísticas vem migrando para uma outra questão de dimensões
ainda maiores, da qual, o jornalismo na condição de instituição social é uma
das partes integrantes. Trata-se da discussão sobre a regulação do sistema de
comunicação pública, algo que só recentemente vem ganhando corpo no Brasil e
avançando, embora ainda muito lentamente.
Por ‘Comunicação Pública’, é bom destacar, entende-se
comunicação enquanto um bem público e indispensável à democracia. Algo que,
como se pode enxergar, está para além dos interesses meramente mercadológicos
de que se vale, por exemplo, a indústria jornalística e seus múltiplos modelos
de enquadramento comercial da informação. Um sistema processual em que a
comunicação possa efetivamente ser concebida como um processo básico da vida em sociedade e essencial
ao desenvolvimento humano em qualquer parte.
Este sim, se
configura, como se pode perceber, o legítimo espaço de reflexão e discussão em
torno do caráter público da comunicação, indo para além da questão meramente
conceitual e restrintiva. Algo que, vale ressaltar, está acima do jornalismo e
suas dicotomias conceituais apresentadas como esforços de resgate àquilo que
ficou restrito à sua filosofia, deontologia e manuais de redação.