Sejam Bem Vindo (a)!

Mostre que você não apenas é observado, mas também um observador da mídia...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

CASO ELOÁ E A ESPETACULARIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NA TV

A ampla cobertura da mídia e, em especial das redes de televisão abertas, sobre o polêmico caso do seqüestro de Santo André, ratificou, de um lado,o badalado avanço do fenômeno da espetacularização na chamada sociedade da informação – o qual ao que parece por mais que
não queiramos, somos forçados a destacar neste espaço- e de outro, a tendência do jornalismo televisivo para o espetáculo midiático. Trata-se, como percebemos, de uma receita perfeita para uma 'deliciosa' audiência ao vivo e a cores...

Mas, apesar de termos muito sobre o que falar acerca desse fato cada vez mais escancarado aos nossos olhos que realmente, conforme ressaltam os diversos estudiosos da espetaculairzação, parecem estar cada vez mais viciados por novos espetáculos, preferimos reproduzir,
abaixo, o comentário feito por Ana Maria Paterson, publicado no Observatório da Imprensa, o qual ao lermos, constatamos que diz tudo aquilo que gostaríamos de escrever e compartilhar com os diletos amigos internautas. O comentário sugere uma auto-crítica por parte do papel desempenhado pela mídia mediante o caso em questão e, em particular, ao modos operandi da imprensa que, conforme descreve a autora do texto em consonância com vários outros estudiosos da práxi jornalística contemporânea, parece estar deixando de lado alguns dos princípios apregoados no próprio código deontológico da profissão jornalista. Segue abaixo, o referido texto:

*A mídia e o seqüestro de Santo André

Por que a imprensa tem tanta dificuldade em fazer autocrítica? É claro que essa pergunta não me surgiu hoje, mas o que me fez escrever foi o papel da imprensa no seqüestro da estudante Eloá Cristina Pimentel. Na segunda-feira (13/10), o Brasil recebeu a notícia de que um rapaz
de 22 anos estava fazendo refém sua ex-namorada, de 15 anos. Foram inúmeras reportagens sobre Lindemberg Fernandes Alves, um rapaz trabalhador, que não bebe, não fuma, tem dois empregos para ajudar a família.

Com o passar das horas, o rapaz foi sendo narrado como um criminoso seqüestrador desequilibrado. Diante disso, uma gama de profissionais passou a ser entrevistada: psiquiatras, advogados, especialistas em segurança, psicólogos, criminalistas foram submetidos a perguntas do tipo "o que o rapaz estava pensando quando entrou no apartamento?", "qual o objetivo dele ao colocar uma camisa do São Paulo na janela?". E por aí ia um festival de sandices.

No segundo dia, o rapaz falou com uma emissora de TV e o espetáculo ficou mais dantesco quando apresentadores José Luiz Datena e Sonia Abraão chegaram a bater boca no ar para decidir quem tinha a equipe de reportagem mais competente, quem fazia um jornalismo mais ético. É possível?

A partir daí, entrevistados, apresentadores, pastores passaram a falar com o rapaz por intermédio da televisão. Ao mesmo tempo, vários comentaristas de segurança (nova denominação para repórter policial) começaram a repetir a seguinte frase "este rapaz está fazendo um passeio pelo Código Penal", enquanto outros estimaram a pena dele em
40 anos.

Considerando que no contato telefônico o rapaz deixou muito claro que seu maior medo era ir para prisão e levar tiros, segundo suas próprias palavras, não seria uma questão ética evitar comentários sobre a punição que ele iria sofrer ao sair de lá? Era de conhecimento de
todos que ele estava assistindo televisão e ouvindo tudo. Não seria prudente evitar esse tipo de comentário com o objetivo garantir o sucesso da operação? Em relação à imprensa, qualquer questionamento de seu papel nisso tudo é respondido pela seguinte frase: "Estamos fazendo nosso trabalho".

Vocês acreditam que é possível fazer jornalismo nos meios?

* Texto publicado por Por Ana Maria Peterson Silva em 18/10/2008, no
www.observatoriodaimprensa.com.br