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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A saturação informativa da era digital

A avalanche de informação que recai sobre as pessoas no mundo moderno é sem sombra de dúvidas um dos fenômenos mais expressivos do caos vivido pela humanidade na atual fase de transição. Neste sentido, é digno de leitura o artigo publicado recentemente no site do Observatório da Imprensa, de autoria de Carlos Castilho, no qual, o jornalista faz uma brilhante análise acerca da complexidade gerada em torno do acelerado processo de produção e difusão da informação no ciberespaço. Segue abaixo, na íntegra, o artigo.


O cidadão midiático e a era da confusão informativa
Postado por Carlos Castilho em 24/1/2011 às 17:45:22



O norte-americano Dan Gillmor acaba de publicar um livro que está dando o que falar. Depois de funcionar como o grande arauto da revolução informativa no seu livro We, the Media [1], lançado em 2004, Gillmor usa agora um tom bem mais cauteloso ao analisar o que ele chamou de “era da confusão informativa”.

O ex-cronista de tecnologia do jornal San José Mercury News e atual consultor da Fundação Knight para empreendedorismo jornalístico online, reconhece que a avalancha informativa na web ultrapassou todas as previsões e que o público começa a dar sinais de uma preocupante tendência: uma ressaca cognitiva.

As pesquisas consultadas por Gillmor em seu novo livro, intitulado MediaActive [2], mostram que os consumidores de informação começam a demonstrar crescente intolerância diante da enorme quantidade de notícias que circulam na web e na imprensa ao constatar que a maioria delas são meias verdades ou totalmente falsas.

Este é um comportamento que já havia sido previsto por vários autores mencionados aqui nos posts do Código, há algum tempo, como um desdobramento inevitável da avalancha de dados, informações e conhecimentos publicados na web. Os dados são impressionantes. Em 2002, todo o acervo [3] de documentos digitalizados na internet não passava de 5 bilhões de exabytes. Em 2009, este total disparou para 281 bilhões de exabytes [4].

As informações produzidas por indivíduos e publicadas na web sob forma de blogs, tweets, fóruns, chats, redes sociais, bancos de dados, páginas web, noticias etc aumentaram 15 vezes entre 2006 e 2009. Segundo Mark Hurd, presidente da empresa de informática Hewlett Packard, nos próximos quatro anos a quantidade de informações publicadas na web será maior do que tudo o que foi produzido pela humanidade até agora em matéria de conhecimento.

Estatísticas como essas causam impacto, mas as pessoas comuns estão se dando conta muito lentamente do que isso significa no nosso quotidiano. Elas só começam a sentir os efeitos da avalancha informativa quando percebem sua incapacidade de poder contextualizar as notícias diante da diversidade de versões.

Gillmor é um dos muitos estudiosos da informação online que depois de se deslumbrar com as incríveis potencialidades do mundo digital e da internet começa a agora a dar-se conta do potencial de incertezas e desorientação gerado pela democratização cada vez maior na produção de conteúdos noticiosos, tanto no formato escrito como no audiovisual.

Está ocorrendo um fenômeno curioso. Os deslumbrados com a revolução digital tornam-se agora mais céticos e desconfiados enquanto os tecnofóbicos, contrariando as expectativas, tornam-se cada vez mais presentes nos fóruns, comunidades virtuais, twitter e blogs, como mostram as pesquisas sobre participação crescente da terceira idade na internet.

Mas não é só isso. Não dá mais para voltar atrás e não nos resta outra alternativa senão enfrentar os dilemas da era da confusão informativa desenvolvendo os recursos necessários para tornar mais confortável a convivência com a dúvida e com a incerteza.

É o que propõe o exercício da leitura crítica, um recurso informativo que até agora era considerado privilégio dos intelectuais e acadêmicos, mas que começa a ser praticado até mesmo pelos leitores de jornais, revistas ou telespectadores. Sem a leitura crítica fica difícil conviver com o tiroteio informativo presenciado diariamente em nossos jornais, revistas e telejornais.

Quem não se dispuser a desenvolver o seu próprio kit de leitura critica, provavelmente será empurrado para duas opções, ambas igualmente arriscadas: a descrença total, o que equivale a um autismo informativo, e a credibilidade incondicional, similar a um ato de fé cega. Ambas muito próximas do fanatismo

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O fim da paz midiática no RJ

O ataque ao Globocop, episódio ocorrido nesta ultima segunda-feira durante a cobertura da equipe de reportagem da TV Globo a uma ocorrência policial num dos morros do Rio de Janeiro, fez cair um pouco da maquiagem em torno da realidade de trégua da marginalidade na cidade maravilhosa, um cenário que vem sendo produzido pelo governo e publicizado pela mídia.

Essa mesma mídia que foi alvo de um recado pra lá de contudente por parte daqueles que, longe da pseuda paz que querem nos fazer acreditar reinar no Rio, continuam controlando o tráfico nos morros e dando as ordens, longe dos holofotes midiáticos. Uma realidade que, para todo carioca da gema, ao contrário do que é desenhado pela imprensa em pacto com o governo, está longe de mudar.

O episódio acima ressaltado é apenas um dos primeiros sinais de que o espetáculo midiático da paz na cidade maravilhosa está com os dias contados, numa clara demonstração de que não há mentira que perdure para sempre nem faz de conta que resista à dureza da realidade que apenas se esconde por trás das cortinas esperando o momento certo para se manifestar...

Enfim, mais uma clara demonstração de que a vida continua como sempre, do lado de fora do PROJAC e longe do Jardim Botânico. Parafraseando a letra de uma das célebres canções do Rappa, a alma continua armada e apontada para a cara do 'sossego' revelando uma paz que ninguem almeja. O sossego produzido pelas imagens de TV sob a tutela da publicidade governamental.