O sucesso estrondoroso da
novela Avenida Brasil cujo capítulo final culminou com o até então, maior pico
de audiência da TV brasileira no ano, aponta para um fenômeno já conhecido de
todos: a paixão do brasileiro pelo folhetim eletrônico que é a novela. De
maneira ainda mais específica, para a hegemonia do núcleo de teledramaturgia da
Globo que, mais uma vez, conseguiu mobilizar a opinião pública em torno de uma
trama que, diga-se de passagem, de novo ou mesmo sensacional, não tinha absolutamente
nada. Ao contrário, se comparada com outras produções que ficaram na história
das telenovelas e cuja receita serviu de modelo para o seu desfechamento, a
exemplo de ‘Vale Tudo’, de autoria de alguns dos maiores nomes da
teledramaturgia brasileira (Aguinaldo Silva e Gilberto Braga), Avenida Brasil
deixou e muito a desejar. Mas então, como se explicar o sucesso do novelista
até então desconhecido do grande público, João Emanuel Carneiro, cujo enrede
principal se permaneceu preso ao mesmo jogo de ódio e vingança de que se valem
todos os autores em suas tramas?
Fico com a hipótese apontada
por alguns críticos para quem a receita do sucesso da trama, sobretudo, em seus
capítulos finais, é fruto de um efeito de dois fenômenos específicos. O
primeiro deles é a estratégia de reforço da divulgação do tal produto
televisivo montado pelo Sistema Globo de Televisão e que tem na dedicação de
espaços extremamente ‘generosos’ da grade de programação diária da empresa, a
sua tática principal.
Uma tática simples, fácil
de se compreender e de grande retorno econômico para a Globo. Insere-se a trama
em todos os horários nobres da emissora, pautando a novela em todos os roteiros
de produção de programas e telejornais, além do reforço das tradicionais
chamadas da novela durante os intervalos comerciais. Foi assim que a Avenida
Brasil, a exemplo do que já vimos acontecer com tantas outras novelas globais,
ganhou destaque na mídia de modo geral e que tem na Globo, vale salientar,
ainda o grande referencial de empresa do ramo, a grande multinacional que
continua dando certo.
Como consequência já
prevista, a ficção se junta à vida real e com uma mãozinha da Central Globo de
Jornalismo, a novela passa a tomar conta da imprensa de modo geral,
ressaltando-se o aspecto de entretenimento a que o jornalismo brasileiro – e
também internacional – cada vez mais se entrega, seguindo uma regra comercial
altamente lucrativa e que faz da indústria do entretenimento, a grande mina de
outro dos grupos midiáticos internacionais, cujas cifras bilionárias ficam a se
perder de vista.
Foi assim que, além de
contar com os espaços de todos os seus telejornais, a Globo mobilizou programas
como Globo Repórter, e outros, através de seus apresentadores cativos como Ana
Maria Braga (Mais Você), Caco Barcelo (Profissão Repórter). Como efeito cascata,
verifica-se a adesão das demais emissoras concorrentes ou não que passam a
tirar uma ‘casquinha’ do produto rentável que é a novela global e que movimenta
milhões de reais entre para as diversas empresas de comunicação, das quais
fazem parte as emissoras de TV, Rádio, sites e revistas.
A outra hipótese do
sucesso da Avenida Brasil está no poder das redes sociais que, a exemplo do
Facebook, passaram a dedicar um enorme espaço para a trama, com o foco especial
voltado ao perfil dos personagens de destaque da novela, a exemplo da
famigerada Carminha e a ingênua raivosa Nina, personagens esses que, vale
lembrar, foram capa de uma das maiores revistas semanais de informação do
mundo, a Veja.
Como se pode perceber,
esse engajamento das redes sociais ao sistema tradicional midiático, reforça o moderno
e dinâmico ciclo de divulgação e de marketing, gerando um raio de alcance ilimitado
e que, se de um lado, nos faz compreender melhor o sucesso de determinados
produtos midiáticos em consumo na atualidade, de outro, nos ajuda a compreender
mais e melhor, a sociedade em que vivemos. Um mundo em que a comunicação cada
vez mais midiatiza e globaliza as vidas humanas, colocando-nos todos numa mesma
e única avenida...