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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Comunicação e recepção

O texto introdutório do livro “Comunicação & Recepção” de autoria das pesquisadoras Nilda Jacks e Ana C. Escosteguy (Hacker Editora, 2005), no qual ambas apresentam um mapeamento e retrospecto histórico evolutivo dos estudos da audiência dos meios, se apresenta como uma leitura bastante instigante e elucidativa. Indo um pouco além da proposta pedagógica principal da obra, na discussão introdutória, as autoras levantam, de maneira didática, questões que extrapolam a problematização em torno da comunicação e recepção, indo ao encontro do que, particularmente, considero como ponto de partida para qualquer que seja a perspectiva de estudo em torno da comunicação, termo este que, como não é mais novidade, vem sendo exaustivamente propagado dentro e fora do âmbito acadêmico, tornando-se um dos, isto é, se não o maior, signo mais marcantes da modernidade.

Revestidas por uma postura vigilante epistemológica e conceitual, as autoras tratam, inicialmente, das noções sobre cada um dos termos justapostos (comunicação/recepção), para em seguida, se inserirem no universo da chamada corrente de estudos da audiência dos meios, ou simplesmente, recepção, como preferem alguns autores. Neste sentido, ao separar os termos-chave da problematização em destaque, respaldadas nas considerações de Francisco Rüddiger, elas destacam primeiramente a pluralidade e ambivalência que caracteriza o campo semântico e conceitual da comunicação, colocando este como um fenômeno extremamente abrangente e que extrapola o universo midiático propriamente dito, para logo em seguida demonstrar que, portanto, ao tratarmos de recepção, estamos nos referindo especificamente, a uma parte do processo comunicacional desenvolvido com e através das mídias. Assim, deixam claro que “ o processo da comunicação engloba a recepção e que este, é parte constitutiva, intrínseca do primeiro”.

Portanto, falar de recepção é falar especificamente de um momento específico desse complexo processo - embora essa especificidade momentânea seja combatida por alguns autores - do qual somos todos agentes partícipes. Momento este que, vale salientar, embora há décadas vem sendo um dos principais nortes investigativo do campo acadêmico das pesquisas em comunicação, só mais recentemente, ganhou uma nova perspectiva, um prisma característicamente mais plural e dialético.

É nesse sentido que Jacks e Escosteguy destacam que “[...] é longa a discussão sobre a adequação ou não do termo recepção para nomear as relações das pessoas com os meios de comunicação, principalmente no âmbito da pesquisa de comunicação, que tem forte ligação com modelos teóricos que consideram os membros da audiência como receptáculos passivos das mensagens midiáticas”. (Pg.14). Trata-se, aqui, como se pode observar, de uma clara alusão à visão defendida pela tradicional Escola de Frankfurt, através dos primeiros estudos levantados em torno das análises do fenômeno da audiência, desenvolvidos no início do século XX.

Só depois de fazer esse preâmbulo elucidativo é que as autoras passam a apresentar aquilo que é a proposta da obra em questão aqui já mencionada. É seguindo essa estratégia retórica que elas destacam as recentes linhas de pesquisas centradas numa perspectiva diferenciada centrada na figura de um sujeito receptor ativo, cuja relação com os meios de comunicação é entendida de maneira diferenciada.

Feito isso, o texto trata em seguida de apresentar a diversidade de termos surgidos no transcorrer das últimas décadas que apontam para as diversas nuances e perspectivas crítico-analíticas em torno dessa vasta problematização que, como podemos perceber, tratam os estudos da recepção.

Dentre esses se destacam “estudos qualitativos da audiência”, “estudo das mediações”, “uso social dos meios”, “Educação para os meios”, e outros. Também é especificado que, embora estejam todos dentro de um mesmo campo de estudo e focados num mesmo fenômeno, essas denominações apontam para perspectivas diferencias, tais como ‘o processo de relação com meios’, ‘os receptores’, ‘o momento de interação ou até mesmo todos esses aspectos reunidos’. Tal diversidade também se justifica através da variedade de elementos a serem estudados dentro dessa linha de pesquisa que, por exemplo, pode vir a ser um tipo de mídia, um tipo de conteúdo midiático (programa, novela, noticiário, etc), ou mesmo a relação com os meios a partir de questões de gêneros (homem, mulher, criança, etc).

Em outro momento extremamente significativo do texto, as autoras apresentam algumas noções conceituais a fim de fazer-nos compreender o que de fato podemos chamar de recepção que, de maneira restrita, segundo as autoras, pode ser compreendida como um estudo da “relação das pessoas como os meios ou veículos de comunicação, com programas, gêneros, mensagens, ou momentos particulares, abarcando a complexa configuração de elementos e fatores que caracterizam o fenômeno como um todo” (pg.15). Aqui está, portanto, uma síntese em que se destaca o momento da recepção
e também da produção, especificando-se os elementos concretos de (pré) ocupação das pesquisas da audiência.

Essa noção, entretanto, não contempla, é importante frisar, aquilo que pode ser considerado como o efeito principal da audiência contemplado por essa perspectiva que é o processo de produção de sentido e de (re) significação ocorrido no desencadeamento do relacionamento dos sujeitos receptores com os meios. Aqui está, sem sombra de dúvidas, como apontam alguns outros autores, o elemento problematizante maior da questão envolvendo essa parte do processo comunicacional de que trata a recepção e para a qual, nossos olhares devem se voltar para nos mantermos mais vigilantes e críticos enquanto sujeitos receptores ativos.

Acredito que só, a partir de tais elucidações aqui destacadas por meio do texto mencionado é que podemos seguir mais firmes na jornada em busca por uma melhor compreensão da comunicação e sua multiplicidade fenomenológica, bem como, dar conta das relações de concluências entre essa e diversos outros fenômenos, a exemplo da educação e da cultura, como trataremos mais adiante.

Até a próxima recepção!