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domingo, 17 de outubro de 2010

Uma contra-resposta à espetacularização midiática

A resposta de alguns dos mineiros chilenos resgatados recentemente de uma mina, onde se encontravam soterrados por mais de dois meses, ao assédio da imprensa porque esses vem passando desde o desfecho final do episódio, ressoou como um basta à estratégia revelada por boa parte da mídia mundial que, em nome da audiência, insiste em transformar pessoas comuns em celebridades instantâneas.

Ao pedir, em entrevista concedida à televisão estatal chilena TVN, que a imprensa não tratasse a ele e aos colegas como artistas, mas, simplesmente como trabalhadores mineiros que o são, Mário Sepúlveda, não apenas reivindicou para si para os demais amigos, o direito de privacidade e de poder ficar em paz ao lado de seus familiares, depois de uma dolorosa e longa experiência, como ao mesmo tempo, contrariou parte da mídia para quem todo e qualquer ser humano dá tudo pelos tão propagados quinze segundos de fama.

Outro sobrevivente do quase trágico acontecimento, consequente do descaso dos empresários do ramo de mina, a demonstrar uma postura serena frente ao assédio midiático foi o chileno Franklim Lobo. Ele criticou a tentativa sensacionalista dos meios de comunicação em tentar transformar ele e seus colegas em heróis, alertando que, na verdade, todos foram e são vítimas do dono da mina na qual ficaram presos por mais de 60 dias em clima de desespero.

Longe da máxima perseguida pelos afãs de se tornarem celebridades instantâneas - a versão do nissin miojo humano- da qual tanto se alimentam, em particular, as emissoras de TV, o breve discurso doz trabalhadores chilenos desnuda cada vez mais o espetáculo produzido pela mídia em torno do lastimável episódio de que eles e mais 30 outros trabalhadores foram vítimas, cuja cobertura transmitida ao vivo para mais de cem paises, mais parecia uma final de reality show.

Ao seu modo simples de ser, o mineiro Mário Sepúlveda deixou evidente que a privacidade e, muito menos, a experiência dolorosa não podem se reduzir ao famigerado e lucrativo jogo de mercantilização da emoção humana de que tanto se vale a mídia moderna em nome da disputa por audiência e captação de retorno financeiro.

Que a mensagem seja bem digerida por aqueles profissionais que fazem a mídia jornalística de todo o mundo e que precisam rever urgentemente o verdadeiro e relevante papel do jornalismo na sociedade, por mais que esta esteja emblematicamente associada à espetacularização. Do contrário, vivemos a iminente ameaça de vermos o mundo inteiro ser reduzido ao encantado show de truman....